Cientista da OMS diz que primeiro caso de Covid pode ter surgido em laboratório

Peter Embarek admitiu que a teoria de vazamento no local de pesquisas e infecção direta por morcego foi descrita como “provável”

O cientista Peter Ben Embarek, chefe da missão da OMS (Organização Mundial da Saúde) que investiga a origem da Covid-19, afirmou, nesta quinta-feira (12), que o paciente número um com coronavírus do mundo pode ter sido infectado enquanto trabalhava no laboratório de alta segurança de Wuhan, na China. A afirmação foi feita em um documentário exibido pelo canal dinamarquês TV2, repercutiu o jornal The Washington Post.

Na produção, chamada ‘The Virus Mistery’, Peter Ben Embarek afirma que, embora pesquisadores da entidade não tenham encontrado evidências concretas, há a hipótese de que um funcionário do Instituto de Virologia possa ter trazido o vírus para Wuhan após coletar amostras em trabalho de campo. Ele admitiu que a teoria de vazamento no local de pesquisas e infecção direta de um morcego foi descrita como “provável” no relatório.

“Um funcionário de laboratório foi infectado enquanto coletava amostras em uma caverna de morcegos. Esse cenário pertence tanto a uma hipótese de vazamento de laboratório quanto à nossa primeira suspeita de infecção direta de morcego para um ser humano. Vimos essa hipótese como uma hipótese provável”, disse Embarek.

Instituto de Virologia de Wuhan, hipotético marco-zero da pandemia (Foto: Wikimedia Commons)

Em outros trechos da entrevista que não foram ao ar, mas que foram relatados pela TV2 em seu site, Ben Embarek sugeriu que poderia ter havido “erro humano”, porém, “o sistema político chinês não permite que as autoridades reconheçam isso”.

“Isso provavelmente significa que há um erro humano por trás de tal evento, e eles não estão muito felizes em admitir isso”, atribui o texto do site a Ben Embarek. “Todo o sistema se concentra muito em ser infalível, e tudo deve ser perfeito”, acrescentou. “Alguém também poderia querer esconder alguma coisa”. Quem sabe?”.

Questionado se a observação “extremamente improvável” do relatório sobre a teoria do vazamento de laboratório era uma exigência chinesa, Ben Embarek disse que “foi a categoria que escolhemos para colocá-lo no final, sim”. No entanto, o pesquisador acrescentou que isso significava que não era impossível, “só não era provável”.

A teoria do vazamento, amplamente especulada nos Estados Unidos, foi considerada o cenário menos provável e a equipe da OMS disse que a investigação dessa hipótese não deveria seguir, rejeição que surpreendeu até os mais céticos em relação a essa teoria.

Embarek revelou que a equipe da OMS descobriu pelo menos 13 variantes do vírus Sars-CoV-2 circulando em Wuhan em dezembro de 2019, o que leva a crer que o vírus já estaria em desenvolvimento antes da epidemia estourar. Ele contou que, no mesmo mês, até mil pessoas já estariam infectadas na província chinesa – quantidade muito maior que a informado pela China, que contabilizava 174 casos graves da doença no período.

Origem “politizada”

Quando liderou a missão na China em janeiro deste ano, Ben Embarek deu a entender que uma forte pressão teria ocorrido de todos os lados, com cerca de 60 colegas chineses trabalhando não apenas com cientistas, mas também com figuras da saúde pública.

“A política estava sempre na sala conosco, do outro lado da mesa”, disse ele a uma revista de ciências em entrevista publicada em fevereiro.

Embarek também afirmou que a China e outros Estados membros não identificados da ONU escreveram à OMS para questionar a base para um estudo mais aprofundado sobre as teorias de origem ligadas aos laboratórios em Wuhan, com esses críticos sugerindo que “o estudo das origens foi politizado, ou que a OMS agiu devido à pressão política. ”

O estudo liderado pela OMS é apenas um ponto de investigação em andamento. No final deste mês, a comunidade de inteligência dos EUA deve concluir uma revisão de 90 dias das evidências sobre as origens do coronavírus.

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