Em decisão com viés religioso, Uzbequistão exige volta de estudantes de Egito e Turquia

Medida pode refletir controle do Uzbequistão sobre quem estuda no exterior e tentativa de prevenção contra radicalismo

Desde o início do ano, o governo do Uzbequistão exigiu o retorno de cerca de 1,5 mil estudantes que haviam ingressado em instituições islâmicas de ensino do Egito e da Turquia, reportou a RFE (Radio Free Europe).

Não há uma justificativa oficial para a medida, mas há indícios de que a intenção do governo seja combater o fundamentalismo religioso. Também serão adotadas novas regras de controle sobre quem deixa o país para estudar religião no exterior.

Em determinados casos, os estudantes deixaram o país com vistos de uma semana para Dubai e de lá seguiram para o Egito. No seu site, a embaixada do Uzbequistão no Egito manifestou preocupação de que a maioria desses jovens vinha sendo educada em “estabelecimentos ou centros” de caráter duvidoso.

Um funcionário da embaixada revelou, ainda, que centenas de alunos uzbeques regularmente matriculados jamais frequentaram seus cursos nem fizeram suas provas na Universidade Al-Azhar, uma das mais importantes do Egito. A partir de agora, a instituição só aceitará alunos uzbeques se houver uma recomendação oficial do Comitê Para Assuntos Religiosos do Uzbequistão.

Uzbequistão exigiu retorno de 1,5 mil estudantes do Egito e Turquia desde janeiro
Mesquita e madrassa de Sultan Hassan, Cairo, Egito, setembro de 2014 (Foto: Divulgação/Mohammed Moussa)

Nos últimos meses, três madrassas – escolas exclusivas para estudos islâmicos – onde estudavam vários alunos uzbeques foram fechadas pelo serviço de segurança da Turquia. Já a polícia uzbeque deteve cerca de 1,8 mil menores nas fronteiras do país, tentando viajar para o Egito entre janeiro e maio. O objetivo: ingressar nessas instituições.

Em 1997, as autoridades uzbeques ordenaram o retorno de cerca de 2 mil estudantes da Turquia após relatos de recrutamento em seitas fundamentalistas islâmicas.

Perseguição ou prevenção

Ex-aluno uzbeque no Egito, Mubashshir Ahmad afirma que o governo do Uzbequistão “interfere no direito constitucional” à educação. Segundo ele, centenas de cidadãos estão em uma “lista de procurados” por frequentarem madrassas.

Cerca de 90% da população do Uzbequistão é muçulmana sunita. Ao mesmo tempo, o Estado incentiva a prática de cortar as barbas de islâmicos à força sob a justificativa de combater o radicalismo islâmico.

Tags: