Em 2018, o impacto econômico do terrorismo em todo o mundo foi de US$ 33 bilhões, segundo o relatório mais recente do Instituto para Economia e Paz, nos EUA. Naquele ano, grupos extremistas realizaram atentados em 71 países e causaram 15,9 mil mortes.
Afeganistão e Iraque foram os mais afetados entre as 71 nações que registraram ataques terroristas. Entre os afegãos, foram contabilizadas 7,3 mil mortes e aumento de 59% ante o ano anterior. O principal motivo é o acirramento da guerra civil no país.
Já o Iraque, que registrou queda de 4,2 mil mortes para mil, não encabeçou a lista pela primeira vez desde 2003. Atribui-se a queda à diminuição da atividade do EI (Estado Islâmico).
Na Somália, também houve diminuição: de 1,4 mil para 646. A desarticulação de células do Al-Shabaab, grupo terrorista islâmico que age no país, auxiliou a diminuição.
Entre 2002 e 2018, 93% das mortes ocorreram nas regiões da África subsaariana, do sul da Ásia e do Oriente Médio. Conheça os principais grupos terroristas que agem nessas regiões.
Estado Islâmico
Fundado em 1999 pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, a meta do grupo era gerar uma guerra civil entre sunitas e xiitas e, mais adiante, levantar insurgência contra as forças norte-americanas que ocuparam o Iraque a partir de 2003. Seu criador foi morto em um ataque dos EUA em 2006.
O Estado Islâmico adota o salafismo, vertente conservadora linha-dura entre os muçulmanos sunitas que surgiu como resposta ao colonialismo europeu no século 19. Mais adiante, assumiu como objetivo instaurar um califado em todo o Oriente Médio, sob jurisdição da lei religiosa sharia.
Os extremistas ganharam espaço a partir de 2014, com a tomada de cidades como a iraquiana Mosul, já sob a batuta de Abu Bakr al-Baghdadi, morto em 2019. Além do tratamento desumano a mulheres e prisioneiros, o EI realizava decapitações filmadas de seus oponentes e limpeza étnica de povos “infiéis” como os yazidi, que vivem no Curdistão, entre Síria e Iraque.
O grupo também foi responsável pela destruição de sítios arqueológicos e monumentos como os de Palmira, na Síria. É acusado de crimes de guerra e contra a humanidade, além de genocídio.
O Estado Islâmico chegou a forjar um proto-Estado com a “capital do califado” em Raqqa, no nordeste da Síria. Em 2015, estimativas davam conta de um orçamento de US$ 1 bilhão e tropa de 30 mil, mas, em quatro anos, os extremistas já haviam perdido 98% de seu território no auge.
Taleban
O Taleban (“estudantes”, em pashto, língua local afegã) surgiu em 1994 como uma milícia de ex-combatentes da guerra contra a União Soviética (1979-1989). O grupo surgiu dentro das madraças, escolas religiosas tradicionais muçulmanas.
Os extremistas chegaram a dominar a maior parte do país em um “emirado islâmico” totalitário apenas dois anos depois.
Durante a experiência, o Afeganistão foi castigado por uma política de terra arrasada na qual eram destruídas cidades e vilas. Com uma interpretação radical da lei islâmica, a sharia, as mulheres viviam confinadas.
O grupo também se notabilizou por destruir imagens históricas como os Budas de Bamiyan, esculpidos em 500 a.C., no mesmo ano. Os líderes alegaram “idolatria” antes de explodir os monumentos.
A entrada de ajuda humanitária também foi negada.
Em 2001, após os ataques do 11 de Setembro, os EUA invadem o país que havia dado guarida ao mandante do atentado, o saudita Osama bin Laden.
Os extremistas do Taleban, hoje comandados pelo mulá Hibatullah Akhunzada, hoje não detém o poder do pré-2001, mas ainda controlam parcelas significativas do país. Neste ano, iniciaram diálogo com o governo de Cabul, apoiado pelos EUA, para um tratado de paz.
Al Qaeda
A organização, também salafista e consequência da invasão soviética ao Afeganistão, foi fundada em 1988 por Osama bin Laden, morto em 2011, e o hoje líder Ayman al-Zawahiri.
Além do 11 de Setembro, foi responsável por bombardear embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998, e em uma área turística em Bali, na Indonésia, em 2002.
O grupo investe em violência contra ocidentais, que liderariam uma “conspiração” contra o Islã, e dos xiitas, considerados hereges. A implementação radical da sharia é parte do sistema de crenças desses extremistas.
A Al-Qaeda em geral atua por meio de bombardeios suicidas ou simultâneos, a exemplo do que ocorreu nos EUA. Entende-se que a matança de civis é aceita pelo Alcorão em nome da pureza religiosa.
Al-Shabaab
A organização é o braço violento do salafismo no Chifre da África, com atuação concentrada na Somália. Em 2012, a Al-Shabaab se aliou à Al-Qaeda e obteve seus maiores avanços.
Entre seus atentados estão o ataque ao shopping Westgate, em Nairóbi, no Quênia, que matou 71 pessoas em 2013. O grupo se notabilizou por ataques piratas na costa da Somália, onde há alto trânsito de embarcações entre a Ásia e a África e presença quase nula do Estado.
No auge, em 2014, contava cerca de sete mil militantes. A maioria de seus líderes recebeu treinamento no Afeganistão e no Iraque. Nas áreas rurais da Somália, o grupo ainda tem alguma força.
Tehrik-i-Taleban
Esses extremistas operam desde 2007 na fronteira, porosa e de relevo acidentado, do Paquistão com o Afeganistão. Sua base ideológica vem da Al-Qaeda e a meta é um levante contra o governo paquistanês, em Islamabad.
Um levantamento dos EUA de 2019 indica que há cerca de quatro mil membros do grupo espalhados entre os dois países, liderados pelo mulá Fazlullah. Cinco anos antes, o Tehrik-i-Taleban havia se rachado em quatro facções.
O Taleban afegão não reivindica parentesco com o homônimo paquistanês, embora ambos tenham origem na etnia pashto. Em geral, os alvos desses extremistas são agentes do Estado na região da fronteira noroeste do país.
Lashkar-e-Taiba
O Lashkar-e-Taiba opera no Paquistão e recebeu financiamento de Osama bin Laden em sua fundação, há 33 anos. O objetivo do grupo é a anexação do território de Jammu e Caxemira, hoje na Índia, ao Paquistão.
A maioria dos atentados dos extremistas tem indianos como alvo. O mais célebre deles é o de Mumbai, em 2008, com 12 ataques simultâneos que envolveram bombardeios, tomada de reféns e trocas de tiros. Cerca de 165 pessoas morreram e 300 ficaram feridos.
O líder Zaikur Rehman Lakhvi figura entre as pessoas mais procuradas na lista do serviço de inteligência indiano. Nova Délhi diz ter evidências de que o serviço secreto paquistanês financiou parte das atividades do grupo.
Boko Haram
Do árabe “a educação ocidental é um pecado”, o grupo tem como base o estado de Borno, no norte da Nigéria, e países vizinhos, como Chade, Camarões e Níger. Foi fundado em 2002 e, em 2015, alinhou-se ao EI para “purificar o Islã” no país mais populoso da África.
A ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que o grupo já forçou o deslocamento de cerca de 2,3 milhões de pessoas. Em 2014, o Boko Haram conseguiu controlar parte do território de Borno e, ali, foi o responsável por sequestros como o das 276 meninas na cidade de Chibok.
O grupo também reivindicou autoria de ataques suicidas, massacres em templos religiosos e bombardeios na região. É comum que crianças sejam usadas para realizar os atentados.
Jemaah Islamiyah
A organização opera no sudeste asiático e foi criada em 1993. Passou a ser considerada terrorista logo após os bombardeios de 2002 em Bali, na Indonésia, perpetrado com a Al-Qaeda e que deu ao grupo sua face atual.
As estimativas mais recentes indicam que a Jemaah Islamiyah tem cerca de cinco mil membros espalhados por Indonésia, Malásia, Filipinas, Brunei, Timor Leste e Singapura.
Entre os ataques atribuídosaos extremistas estão bombardeios em hotéis na Indonésia. Entre eles, redes ocidentais como Marriott e Ritz-Carlton. A embaixada australiana na capital indonésia Jacarta também foi alvo de ataque em 2004.
No Brasil
Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.