Rússia perde equipamento militar em ritmo superior ao que sua indústria consegue suportar, dizem analistas

Moscou poderia repor veículos e peças de artilharia pelos próximos dois ou três anos, mas depois disso dependeria de medidas extremas

Não são apenas as baixas de combatentes que criam problemas para a Rússia sustentar a longa guerra contra a Ucrânia. As perdas de armas e veículos também preocupam Moscou, que usa cada vez mais equipamentos antigos armazenados para repor outros mais modernos danificados ou destruídos pelas forças inimigas. Segundo analistas, a indústria de defesa russa não terá como sustentar o ritmo atual por muito tempo caso a guerra prossiga, pois sua produção não acompanha as perdas.

“A Rússia depende de vastos armazéns de veículos e outros equipamentos da era soviética para sustentar as operações e as perdas na Ucrânia em nível muito superior ao que a atual BID (base industrial de defesa) russa poderia suportar”, diz relatório publicado na quarta-feira (8) pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês). “A Rússia não será capaz de mobilizar sua BID para reabastecer estes armazéns durante muitos anos”

Tanques abandonados pelo exército russo na retirada de Izyum (Foto: WikiCommons)

O think tank britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) fez avaliação semelhante em fevereiro. Na oportunidade, seus analistas destacaram a atual capacidade da indústria de Moscou de suportar as perdas, mas alertou que isso tem um prazo.

“A Rússia será capaz de sustentar o seu ataque à Ucrânia com as atuais taxas de desgaste por mais dois a três anos, e talvez até mais”, diz relatório do think tank. Depois disso, entretanto, é difícil projetar como a Rússia conseguirá sustentar o atual ritmo de perdas, caso ele se mantenha. Seriam necessárias medidas extremas que ao menos neste momento o Kremlin não parece disposto a adotar.

O IISS estima que as Forças Armadas russas perderam três mil veículos blindados de combate em 2023 e cerca de 8,8 mil desde que a guerra teve início, em fevereiro de 2022.

O que leva Moscou a recorrer a estoques de veículos antigos para reposição é o ritmo de sua indústria de defesa. A BID russa atualmente produz entre 250 e 300 tanques blindados por ano, sendo capaz ainda de reparar outros 250 a 300 no mesmo período. Ou seja, até um certo ponto será possível suportar as perdas, mas depois disso a conta não fechará mais.

“A Rússia provavelmente terá dificuldade em fornecer material adequado às suas unidades a longo prazo, sem transferir a economia russa para uma situação de guerra, uma medida que o presidente russo, Vladimir Putin, tem procurado evitar até agora”, afirma o ISW.

O problema já havia sido apontado pela revista Newsweek em fevereiro deste ano, com imagens de satélite indicando que a Rússia vinha retirando de seus armazéns militares uma grande quantidade de peças de artilharia.

Na ocasião, analistas de código aberto observaram imagens dos campos onde o armamento é guardado habitualmente. Assim, constataram que os estoques são cada vez menores, sinal de que são usados frequentemente para reposição de peças avariadas por ataques ucranianos ou desgastadas pelo uso excessivo.

Invariavelmente, a situação obriga as forças russas a usarem equipamento antigo ou inadequado. As imagens mostravam, por exemplo, canhões da Segunda Guerra Mundial instalados no lugar de outros mais novos, além de peças com finalidades distintas adaptadas em equipamentos de artilharia.

Se Moscou não divulga números, Kiev publica frequentemente suas estimativas na rede social X, antigo Twitter. E exibe estatísticas de danos maiores que as projetadas pelos analistas.

O balanço mais recente, divulgado nesta sexta-feira (10), indica que a Ucrânia atingiu até agora 12.387 peças de artilharia, 7.434 tanques de guerra, 14.313 veículos blindados de combate e 1.062 sistemas de lançamento de foguetes da Rússia. Tais dados, no entanto, carecem de verificação independente.

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