O ataque que matou três turistas da Espanha e um cidadão afegão e deixou vária pessoas feridas no Afeganistão, no sábado (18), foi conduzido por indivíduos ligados ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). A organização terrorista assumiu a autoria na noite de domingo (19), segundo informações da agência Associated Press (AP).
O grupo extremista afegão, um braço do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria, usou sua agência de notícias, Aamaq, para dizer que jihadistas dispararam contra um ônibus que levava turistas e guias locais em Bamiyan, na região central do país, área considerada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
“O ataque foi uma resposta às instruções dos líderes do EI para atingir os cidadãos da União Europeia (UE) onde quer que se encontrem”, afirmou o EI-K.
Uma fonte ligada ao Taleban, grupo radical que governa o Afeganistão, disse que ao menos sete pessoas ficaram feridas no ataque, sendo dois afegãos e cinco turistas estrangeiros, provenientes de Espanha, Noruega, Austrália e Letônia.

A violência ocorre menos de um mês depois de o Taleban iniciar um projeto que tem como objetivo aumentar a presença de turistas no país. E os números, segundo a AP, já têm melhorado. Foram 691 visitantes estrangeiros no Afeganistão em 2021 e 2,3 mil no ano seguinte.
Um dos atrativos é justamente a região de Bamiyan onde ocorreu o atentado. A área montanhosa abriga os restos de duas estatuas de Buda que foram parcialmente estruídas pelo Taleban durante o governo anterior do grupo, entre 1996 e 2001.
Estrangeiros na mira do terror
A violência é um dos principais obstáculos enfrentados pelo turismo afegão, tendo o EI-K como grande responsável. O grupo opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do EI. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.
Após o fim da ocupação estrangeira, o EI-K tornou-se mais ativo e é hoje o principal desafio de segurança do Afeganistão. Seus principais alvos são membros de minorias étnicas xiitas e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pela facção de Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.
Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 183 pessoas na região do aeroporto de Cabul em agosto de 2021.
Ultimamente, porém, os ataques do grupo cada vez mais atingem estrangeiros. “O EI-K expandiu sua lista de alvos e incluiu diplomatas, infraestrutura crítica e multidões em locais públicos”, disse em fevereiro do ano passado Mahmut Cengiz, professor da Universidade George Mason, nos EUA, em artigo publicado na revista Homeland Security Today
Em janeiro de 2023, um ataque suicida deixou ao menos cinco pessoas mortas em uma região que abriga embaixadas estrangeiras, como as de China e Turquia. Já um hotel frequentado sobretudo por chineses foi atacado em dezembro de 2022, sem vítimas civis. Na ocasião, Beijing emitiu um comunicado para que seus cidadãos deixassem o Afeganistão “o mais rápido possível”.
O fortalecimento interno permitiu ao EI-K se expandir internacionalmente. Segundo levantamento do site independente russo Important Stories, ao menos cinco países europeus impediram ataques da facção nos últimos anos: Alemanha, Áustria, Espanha, França e Holanda.
Quem não conseguiu conter a violência dos insurgentes foi a Rússia. No dia 22 de março, na casa de espetáculos Crocus City Hall, em Moscou, 144 morreram após quatro homens com rifles automáticos invadirem o local e dispararem contra a multidão.