A crise diplomática entre Argélia e França voltou a escalar de forma dramática. O governo argelino ordenou a expulsão de 12 funcionários do consulado francês em resposta direta à prisão de um diplomata argelino na região metropolitana de Paris, acusado de participar do sequestro de um dissidente opositor há um ano. A medida representa a maior expulsão de diplomatas franceses desde a independência da Argélia, em 1962, de acordo com a rede BBC.
Segundo a agência estatal APS, a prisão do oficial consular foi vista como “uma flagrante violação das imunidades e privilégios que acompanham suas funções (diplomáticas)”. O governo argelino considera o caso um ataque calculado: “Este incidente judicial sem precedentes… não surgiu por acaso. Seu objetivo é sabotar a retomada das relações bilaterais acordada pelos dois chefes de Estado.”

Até então, sinais de reaproximação vinham sendo registrados. Em março, os presidentes Emmanuel Macron e Abdelmadjid Tebboune conversaram por telefone, o que foi interpretado como o início de uma reconciliação. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, visitou Argel, reforçando a disposição de ambos os lados em superar o impasse.
No entanto, o gesto argelino sugere que setores do governo continuam resistindo à aproximação. Vários dos diplomatas expulsos pertencem ao Ministério do Interior francês, chefiado por Bruno Retailleau, político conservador com aspirações presidenciais e conhecido por declarações duras sobre imigração e segurança.
Argel acusa Retailleau de estar por trás da detenção do diplomata e de tentar minar a política de Macron, considerada mais equilibrada. O episódio amplia o mal-estar que já vinha crescendo desde que, em julho do ano passado, Macron indicou uma reorientação estratégica da França em direção ao Marrocos, rival histórico da Argélia.
A expulsão dos diplomatas ocorre quando Paris também alimentava expectativas de um gesto humanitário de Argel. A possível libertação do escritor franco-argelino Boualem Sansal, de 80 anos e com câncer, condenado a cinco anos de prisão por crimes contra a segurança do Estado, parecia estar próxima. Agora, segundo observadores franceses, essas esperanças estão praticamente enterradas.