A China tem demonstrado preocupação crescente com a cooperação militar entre a Coreia do Norte e a Rússia, segundo Kurt Campbell, secretário-adjunto de Estado dos EUA. A parceria inclui o envio de dez mil soldados norte-coreanos para apoiar Moscou na guerra contra a Ucrânia, o que gera apreensão em Beijing. As informações são do jornal The Guardian.
Campbell destacou, durante um seminário em Washington, que a China parece surpresa com o grau de envolvimento da Coreia do Norte na guerra. “Nas discussões que tivemos, parece que estamos informando-os de coisas que desconheciam sobre as ações da Coreia do Norte, o que não está alinhado aos interesses da China”, afirmou, observando ainda que a colaboração entre Pyongyang e Moscou é “desconcertante” para o governo chinês.
Essa aliança é motivo de debate também entre aliados dos EUA na Ásia. No Japão, há dúvidas sobre o apoio chinês à decisão de Kim Jong-un, mas analistas ressaltam que Beijing não criticou Moscou diretamente. Dennis Wilder, ex-diretor-assistente da CIA (agência Central de Inteligência, da sigla em inglês) para o Leste Asiático, destacou o silêncio de Beijing. “Como a China pode ignorar que seu Estado cliente está lutando na Ucrânia?”, questionou.
Enquanto isso, Beijing tomou medidas simbólicas para melhorar relações com o Japão, como a promessa de remover uma boia instalada em zona econômica exclusiva japonesa perto das disputadas Ilhas Senkaku. Observadores veem o gesto como tentativa de conter a crescente aliança Japão-Coreia do Sul-EUA na região.
Ainda assim, analistas como Andrew Shearer, chefe de inteligência australiana, acreditam que a relação entre Vladimir Putin e Xi Jinping permanece sólida. “A ideia de criar divisões entre Putin e Xi é ilusória. A China continua a sustentar a Rússia militar e diplomaticamente”, comentou.
Samuel Paparo, comandante da Frota do Pacífico dos EUA, destacou no Fórum de Segurança de Halifax que o apoio mútuo entre Rússia, Coreia do Norte e China é de natureza “transacional”. Ele mencionou que Pyongyang fornece artilharia a Moscou, que retribui com tecnologia de mísseis e submarinos.
No Japão, acadêmicos como Hideya Kurata acreditam que Beijing adota uma postura de desconforto em relação à parceria, sem aprová-la nem condená-la. “A posição da China está ligada à sua própria agenda estratégica, incluindo Taiwan“, explicou.