AIEA diz que Ucrânia escapou por pouco de desastre após bombardeio a usina nuclear

"Tivemos sorte de um incidente nuclear potencialmente grave não ter acontecido", disse o chefe da agência, Rafael Grossi

Por pouco a situação na usina nuclear de Zaporizhzhya, na Ucrânia, não evoluiu para um desastre. Segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o local, ocupado pelas forças russas desde o início da guerra e cenário de combates, foi alvo de bombardeios no fim de semana. As informações são da rede Radio Free Europe.

De acordo com o órgão de vigilância nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas), “explosões poderosas” atingiram a maior usina nuclear da Europa entre sábado (19) e domingo (20). Desde então, Kiev e Moscou têm trocado acusações sobre de quem teria sido a responsabilidade pelos ataques, que causaram danos a edifícios e equipamentos da fábrica.

Em comunicado, o chefe da AIEA, Rafael Grossi, disse que quem coordenou as ofensivas contra a usina estava assumindo “enormes riscos e jogando com a vida de muitas pessoas”.

“Foi por um triz”, declarou Grossi. “Tivemos sorte de um incidente nuclear potencialmente sério não ter acontecido”, disse ele, que acrescentou: “Da próxima vez, podemos não ter tanta sorte”.

Kiev acusa Moscou de manter como refém a usina nuclear construída na era soviética. A alegação é de que os invasores estariam armazenando armas no local e coordenando ataques no seu entorno. Do outro lado, o Kremlin rechaça as acusações e diz que os ucranianos têm disparado “imprudentemente” contra a instalação, que fica na cidade de Enerhodar.

Rafael Mariano Grossi em visita a Zaporizhzhya, setembro de 2022 (Foto: Fredrik Dahl /IAEA – Flickr)

A AIEA tranquilizou os ucranianos após relatar que os níveis de radiação permanecem normais e que não há vítimas registradas. 

“Não houve impacto direto na segurança nuclear e nos sistemas de proteção, mas o bombardeio chegou perigosamente perto deles”, disse Grossi.

Nesta segunda-feira (21), em videoconferência com a Assembleia Parlamentar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Madri, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu proteção às usinas nucleares do seus país, falando aos membros da aliança militar.

“Todas as nossas nações estão interessadas em não ter incidentes perigosos em nossas instalações nucleares”, disse Zelensky. “Todos nós precisamos de proteção garantida contra a sabotagem russa em instalações nucleares”.

Mesmo com todos os riscos já alertados pelos especialistas, fechar as usinas nucleares – o país possui quatro – em meio à invasão russa não é uma opção. A Ucrânia precisa de seus 15 reatores, responsáveis por 50% do abastecimento elétrico.

Com tanta turbulência na região, há uma atmosfera de ansiedade sobre a hipótese de um desastre nos moldes de Chernobyl há 36 anos, que poderia ter grande impacto nas cidades próximas ou potencialmente dentro de um raio muito maior.

Ataques na região

O bombardeio ocorre em um cenário em que as forças do Kremlin supostamente têm reforçado suas defesas ao redor da cidade de Zaporizhzhya, à medida que a intensidade dos combates na região leste de Donbass

Tal movimentação das forças russas ocorre após o exército ucraniano ter recapturado recentemente a cidade de Kherson, localizada 300 quilômetros a sudoeste da usina nuclear. O local era a única capital regional tomada pelas tropas do presidente Vladimir Putin desde o início da guerra, e a retirada das forças russas de lá indicou um potencial ponto de virada no conflito. 

Em outra parte da região de Zaporizhzhya, a Rússia bombardeou a infraestrutura civil de pelo menos uma dúzia de comunidades, destruindo 30 casas, disse a governo ucraniano no domingo (20).

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