Reconquista de Kherson é ‘improvável’, à medida que a Rússia se reforça no sul da Ucrânia

Com um ataque frontal completo para recuperar cidade estratégica duvidoso, Kiev parece ter lançado uma campanha sistemática para destruir as instalações russas no sul ocupado

Analistas se mostram céticos quanto à possibilidade de as forças da Ucrânia conseguirem impor uma ofensiva vigorosa para recapturar territórios ocupados pelos russos na região sul do país. Para eles, tal virada de jogo é de uma viabilidade cada vez mais duvidosa para Kiev, à medida que Moscou sentiu o baque após algumas perdas por lá e reforçou o front, enquanto os ucranianos estão ocupados em se defender e repensar o tabuleiro da guerra. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Embora as autoridades ucranianas tenham falado bastante sobre a retomada da cidade de Kherson, primeiro grande centro conquistado pelo exército russo já nos primeiros dias de guerra, em fevereiro, não há grandes demonstrativos de que as forças do país invadido estejam se mexendo para surpreender o inimigo com um grande ataque de infantaria.

“Se havia uma janela de oportunidade para atacar os russos nesta região há algumas semanas, acho que já passou”, disse Konrad Muzyka, da agência Rochan Consulting, com sede na Polônia. 

Kherson foi a primeira grande cidade ucraniana ocupada por Moscou (Foto: Reprodução/Telegram)

Kherson, um local economicamente vital, é fundamental para as ambições russas no sul do território ucraniano. Se o controle escapar de suas mãos, o Kremlin compromete os planos de avançar rumo a Odessa e ocupar o litoral do Mar Negro.

Por isso, Moscou transferiu milhares de soldados do leste para o sul da Ucrânia nas últimas semanas. Incluindo algumas de suas forças aéreas de elite. Cerca de 20 mil soldados russos estão agora em Kherson, segundo analistas. 

“Os russos tinham cerca de 10 a 15 grupos táticos de batalhões ao redor de Kherson. Agora eles duplicaram isso”, disse Muzyka. Cada grupo tático do batalhão russo tem até mil homens.

A libertação de Kherson seria um dos grandes trunfos de Kiev sobre Moscou desde que Vladimir Putin colocou seu exército no país vizinho. A cartada ucraniana teria sido planejada durante meses, envolvendo muito treinamento militar com uso de armamento ocidental enviado por parceiros, em especial o lança-foguetes Himars, de fabricação americana, o mesmo sistema utilizado em outra vitória simbólica que resultou na retirada de soldados russos da Ilha das Cobras.

Mudança de comportamento

A estratégia mudou. Se um ataque frontal completo para retomar Kherson se mostra improvável, os ucranianos parecem agora concentrados em uma campanha sistemática para destruir as instalações russas no sul ocupado da Ucrânia e na península da Crimeia, sufocando as linhas de suprimentos russas para as regiões capturadas. Tudo da retaguarda, fazendo uso das armas dos parceiros ocidentais.

Na terça-feira (16), um depósito de munição russo e uma infraestrutura de energia na Crimeia foram supostamente explodidos pelos ucranianos. O canal Mash Telegram mostrou imagens dos danos causados. 

Robert Bell, ex-funcionário da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e professor da Universidade Tecnológica da Geórgia, analisou a mudança de comportamento ucraniana.  

“O compromisso parece ser que a Ucrânia percebeu que, com este novo armamento, ela pode realmente interditar as linhas de suprimentos da Rússia e então tentar criar uma situação onde deixe isolados os 20 mil soldados russos dentro de Kherson”, disse.

Nas últimas semanas, nenhum dos lados teve ganhos territoriais significativos e ambos encaram problemas logísticos. No início do mês, o cenário era mais favorável aos ucranianos, que destruíram pontes sobre o rio Dnieper, o que comprometeu o tráfego militar do inimigo, consequentemente deixando as tropas russas estagnadas nas margens do outro lado. Também retomaram o controle de 44 localidades e cidades.

Foi justamente esse revés que fez Moscou desacelerar sua ofensiva no leste da Ucrânia e transferir homens e materiais para a área de Kherson. 

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