Alemanha ignorou alertas sobre suspeito de ataque em Magdeburgo, diz Arábia Saudita

Sauditas dizem ter avisado repetidamente sobre as posições extremistas de Taleb al-Abdulmohsen, alertas supostamente ignorados

As autoridades da Arábia Saudita afirmam ter enviado pelo menos quatro comunicados formais ao governo alemão alertando sobre as visões extremistas de Taleb al-Abdulmohsen, suspeito de um ataque no mercado de Natal de Magdeburgo no domingo (22). Três dos alertas foram enviados a agências de inteligência e um ao Ministério das Relações Exteriores em Berlim, mas, segundo os sauditas, não houve qualquer resposta. As informações são da rede BBC.

Al-Abdulmohsen, nascido em 1974 em Hofuf, Arábia Saudita, abandonou o país aos 32 anos e recebeu asilo na Alemanha em 2016, um ano após a então chanceler Angela Merkel abrir as fronteiras para mais de um milhão de refugiados do Oriente Médio. Ele se destacou por romper com o Islã, algo raro para cidadãos sauditas, e se autodenominava psiquiatra e fundador de um movimento de direitos humanos saudita.

Uniforme de militares alemães durante treinamento da Otan em 2024 (Foto: bundeswehr.de)

Apesar das advertências sauditas, autoridades alemãs permitiram que al-Abdulmohsen permanecesse no país. Ele chegou a criar uma plataforma online para ajudar mulheres sauditas a fugir para a Europa, iniciativa que o governo da Arábia Saudita acusa de ser uma fachada para tráfico humano. O Ministério do Interior saudita afirma ter um extenso arquivo sobre ele.

O ataque em Magdeburgo, no qual al-Abdulmohsen é suspeito de dirigir um BMW contra a multidão, expôs falhas graves das autoridades alemãs, incluindo a falta de resposta às advertências sauditas e problemas na segurança do mercado. Segundo fontes oficiais, o acesso de emergência ao local estava desprotegido, facilitando a ação.

“Estamos colaborando com as investigações da Alemanha em todos os sentidos possíveis”, afirmou uma fonte saudita, destacando a seriedade com que o caso está sendo tratado por Riad. Por outro lado, as autoridades alemãs defenderam o layout do mercado e garantiram que a investigação está em andamento.

Contexto político e direitos humanos

O caso al-Abdulmohsen também coloca em evidência as relações entre Alemanha e Arábia Saudita. Enquanto o país árabe é aliado do Ocidente, seu histórico de direitos humanos permanece controverso. Até 2018, mulheres não podiam dirigir, e aqueles que pediam publicamente o fim dessa proibição foram presos.

Sob o governo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, reformas sociais foram implementadas, permitindo maior liberdade em eventos culturais e esportivos, mas houve um endurecimento em questões políticas. “Qualquer questionamento ao governo é severamente punido”, comenta um analista político.

O paradoxo das reformas sociais sauditas frente à repressão política levanta questões sobre como o Ocidente deve interagir com um país que, ao mesmo tempo, promove avanços sociais e endurece seu controle interno.

A ausência de resposta da Alemanha aos alertas sauditas pode refletir uma desconfiança mútua, mas o incidente em Magdeburgo demonstra que essas falhas de comunicação podem ter consequências graves.

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