As instalações secretas em que a Rússia costumava realizar seus testes nucleares estão prontas para voltar à atividade. Segundo o chefe do local, contra-almirante Andrei Sinitsyn, basta o “sim” do presidente Vladimir Putin para o país retomar as detonações. As informações são da agência Reuters.
Moscou interrompeu os testes nucleares no início dos anos 1990, pouco antes da dissolução da União Soviética. Agora, a retomada dos procedimentos surge como uma alternativa de dissuasão para o Kremlin em meio ao aumento da tensão com o Ocidente.
O país costumava realizar seus testes no arquipélago de Novaya Zemlya, no Oceano Ártico, onde inclusive foi detonada a bomba mais poderosa do mundo em 1961. Embora os experimentos tenham sido interrompidos nas últimas décadas, imagens de satélite registraram recentemente a realização de obras na região.
“O local de teste está pronto para a retomada das atividades de teste em larga escala. Está pronto em sua totalidade. O laboratório e as instalações de teste estão prontos. O pessoal está pronto”, disse Sinitsyn. “Se a ordem vier, podemos começar os testes a qualquer momento.”
A afirmação do militar chega em um momento particularmente preocupante para os aliados ocidentais, conforme Moscou ultrapassa a retórica inflamada e adota medidas práticas ligadas a seu arsenal de armas de destruição em massa. Um ponto delicado é a possível flexibilização da doutrina nuclear russa, o que facilitaria o uso do armamento. Outro, a realização de exercícios militares com armas táticas.
Tais exercícios não são raros, mas geralmente envolvem as armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram contra Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, em manobras recentes, Moscou usou armas nucleares táticas, menos poderosas e voltadas a neutralizar posições inimigas, sinal de que cogita implantá-las na Ucrânia.
Para não se prender a regras muito rígidas caso entenda necessário usar seu arsenal de destruição em massa, Putin sugeriu em junho, no Fórum Internacional Econômico de São Petesburgo, que a doutrina nuclear do país está sujeita a alterações, atreladas à pressão que Moscou alega sofrer do Ocidente.
O vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov reforçou tal possibilidade ao dizer que o país não descarta mudar sua doutrina nuclear. Atualmente, a regra prevê o uso do arsenal em resposta a um eventual ataque nos mesmos moldes realizado por outra nação ou para reagir a uma situação extrema que coloque a própria existência do Estado russo em risco.
Porém, sob o argumento de reagir ao que chamou de “ações de escalada” por parte dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Ryabkov disse que o conjunto de regras pode ser flexibilizado, sem dar maiores detalhes sobre as mudanças que seriam implementadas.