Biden cede aos pedidos de Kiev e libera ataques com armas dos EUA dentro do território russo

Decisão foi confirmada por fontes dentro do governo norte-americano e autoriza Kiev a usar sistema com alcance de 300 quilômetros

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a usar de armas fornecidas por seu país para ataques dentro do território da Rússia, marcando uma mudança significativa na dinâmica da guerra entre Kiev e Moscou. A decisão atende às demandas do governo ucraniano, que argumentava que a impossibilidade de atingir alvos em solo russo limitava sua capacidade de neutralizar ameaças cruciais, como bases de lançamento de mísseis e centros logísticos.

A agência Associated Press (AP) confirmou a autorização com base em depoimentos de uma autoridade norte-americana e outras duas fontes com conhecimento dos fatos. A medida, que visa ampliar as possibilidades defensivas da Ucrânia, representa também um desafio à tentativa de evitar uma escalada direta entre a Otan (Organização o Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.

Embora diversos veículos de mídia tenham noticiado a medida, ela não foi confirmada oficialmente por Washington, o que gerou uma reação comedida do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. “Ataques não são feitos com palavras”, disse ele durante seu discurso noturno em vídeo. “Tais coisas não são anunciadas. Os mísseis falarão por si mesmos.”

Volodymyr Zelensky e Joe Biden na Casa Branca, dezembro de 2022 (Foto: twitter.com/whitehouse)

Serhiy Kuzan, presidente do Centro Ucraniano de Segurança e Cooperação, um think tank sediado em Kiev, disse à BBC que a decisão de Biden é “muito importante” para o país, mas não coloca a Ucrânia no caminho de uma vitória definitiva. “Não é algo que mudará o curso da guerra, mas acho que tornará nossas forças mais iguais”, disse o analista.

Avaliação semelhante fez Alex Plitsas, membro sênior não residente do think tank Atlantic Council, que falou à agência Reuters. “A remoção das restrições de alvos permitirá que os ucranianos parem de lutar com uma mão amarrada nas costas”, declarou.

De acordo com o jornal The New York Times, o aval de Biden é direcionado ao ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército), que tem alcance de cerca de 300 quilômetros e foi entregue às forças ucranianas em março. Até então, vinha sendo implantado somente contra as forças russas dentro da Ucrânia, limitação que deixará de existir

A suspensão das restrições por parte dos EUA está diretamente relacionada à presença de tropas norte-coreanas na Rússia para apoiar o aliado na guerra. De acordo com o Pentágono, Moscou ganhou o reforço de ao menos dez mil tropas enviadas por Pyongyang, com relatos do lado ucraniano de que elas já se envolveram em combates com os ucranianos.

Terceira Guerra Mundial

Moscou não esperou uma oficialização da autorização para reagir. Andrei Klishas, membro sênior do Conselho da Federação da Rússia, afirmou que essa medida representa uma “escalada direta” e que Moscou responderá imediatamente. Vladimir Dzhabarov, vice-chefe do comitê de assuntos internacionais da câmara alta, advertiu que tais ações podem levar a uma “Terceira Guerra Mundial”.

O presidente Vladimir Putin já havia declarado que permitir que a Ucrânia atacasse o território russo com mísseis ocidentais mudaria a natureza do conflito, levando a “decisões apropriadas” por parte da Rússia. Leonid Slutsky, presidente do comitê de assuntos estrangeiros da Duma Estatal, a câmara baixa do parlamento russo, reforçou que o uso de mísseis ATACMS pelos ucranianos poderia resultar nas respostas mais severas da Rússia e aumentar significativamente a escalada do conflito.

A decisão de Washington marca uma mudança significativa na política dos EUA em relação ao conflito entre Ucrânia e Rússia. Autoridades americanas acreditam que essa medida pode fortalecer a posição da Ucrânia em futuras negociações. No entanto, a possibilidade de uma escalada maior preocupa tanto os legisladores russos quanto a comunidade internacional.

Enquanto isso, a Ucrânia planeja realizar seus primeiros ataques de longo alcance nos próximos dias, utilizando os mísseis ATACMS. Essa decisão ocorre pouco antes da posse do presidente eleito Donald Trump, que tem sido crítico em relação à ajuda à Ucrânia, levantando dúvidas sobre a continuidade dessa política no futuro próximo.

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