Crítico de Vladimir Putin ganha o Prêmio Pulitzer por textos escritos no cárcere

Vladimir Kara-Murza, que se opõe ao governo e à guerra, sobreviveu a dois envenenamentos e cumpre pena de 25 anos por traição

O escritor e ativista russo Vladimir Kara-Murza, condenado a 25 anos de prisão sob a acusação de traição, foi anunciado na segunda-feira (6) como um dos ganhadores do Prêmio Pulitzer por suas colunas escritas no cárcere para o jornal The Washington Post.

Segundo a premiação, Kara-Murza foi agraciado “por colunas apaixonadas escritas sob grande risco pessoal a partir da sua cela de prisão, alertando para as consequências da dissidência na Rússia de Vladimir Putin e insistindo num futuro democrático para o seu país.”

Na última coluna anterior à premiação, publicada em 3 de abril, ele se diz “orgulhoso” por ver que “neste momento sombrio, desprezível e terrível na Rússia” existam tantas pessoas, caso dele próprio, que “não tiveram medo e não permaneceram em silêncio – mesmo ao custo da sua própria liberdade.”

O político e jornalista russo Vladimir Kara-Murza (Foto: Mykola Swarnyk/WikiCommons)
Envenenamentos e prisão

Crítico de Putin e da guerra da Ucrânia, Kara-Murza sobreviveu a dois envenenamentos, em 2015 e 2017, que ele acredita terem sido obra do Kremlin. Embora as autoridades russas neguem envolvimento, uma investigação conduzida pelos sites jornalísticos Bellingcat e The Insider identificou oficiais do FSB (Serviço Federal de Segurança) da Rússia como os autores dos envenenamentos

Colaborador do líder da oposição Boris Nemtsov, assassinado perto do Kremlin em 2015, Kara-Murza continuou a ser perseguido pelo Kremlin após se recuperar das tentativas de assassinato, que o deixaram em coma.

Então, no início de 2023, ele foi julgado e condenado a 25 anos de prisão por traição, como parte dos esforços do governo russo para reprimir a dissidência. Em um julgamento realizado a portas fechadas, ele foi considerado culpado por disseminar “informações falsas” sobre o exército russo e por ter conexões com uma “organização indesejável”.

Atualmente cumpre pena na prisão IK-6, uma instalação de segurança máxima na cidade siberiana de Omsk. Trata-se de uma colônia penal construída nos tempos da antiga União Soviética e criticada por alegações de violações dos direitos humanos, incluindo condições precárias, tratamento abusivo e falta de acesso adequado a cuidados médicos.

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