Vladimir Putin sabe muito bem o que fazer em um 12 de junho. No Dia da Rússia, um feriado nacional, o chefe do Kremlin entregou à nação um discurso nacionalista apaixonado, cheio de gloriosas referências imperialistas. Em especial ao czar Pedro, o Grande, um monarca russo do final do século 17 a quem ele gosta de se comparar. A data também foi celebrada com festas em diversos países, e inclusive a Embaixada no Brasil terá uma comemoração na terça-feira (14), segundo informações obtidas pela reportagem de A Referência.
Em meio às comemorações em Moscou pelo dia que marca o surgimento da Rússia como um Estado soberano após o colapso da União Soviética, Putin apelou pela união do povo em tempos de guerra, já que sua “operação militar especial” na Ucrânia não é exatamente aplaudida por toda a população, que sofre por todos os lados com o impacto das sanções ocidentais. O discurso ocorreu durante a cerimônia de entrega de prêmios relativos a 2021 por feitos nas áreas de ciência, tecnologia, literatura, artes e direitos humanos.
“Hoje estamos especialmente conscientes de como é importante para o país, para a nossa sociedade, que as pessoas estejam unidas”, disse Putin, em fala citada por diversas agências de notícias. Ele também fez menção às “tradições seculares, valores morais, fundamentos espirituais” de sua gente, bem como os “sagrados” sentimentos “sinceros e profundos de patriotismo”.
A retórica de Putin prosseguiu épica, particularmente no momento em que o antigo imperador Pedro, o Grande, foi citado. Entre as façanhas do czar, que parece ser a figura histórica preferida do presidente russo, a criação de um exército “invencível”.
“Ele é justamente chamado de grande reformador por mudanças fundamentais em quase todas as esferas da vida, principalmente no governo, no desenvolvimento econômico, na criação de um exército e de uma marinha poderosos e invencíveis”, disse Putin, segundo repercutiu o jornal português Observador.
Em Moscou foram registrados protestos. Uma bandeira foi colocada no muro do Estado-Maior Geral das Forças Armadas, com uma inscrição “Este não é o meu dia”. A manifestação teria sido feita por artistas locais contrários à invasão ao país vizinho.
Territórios ocupados em festa
A data não foi celebrada apenas no vasto território da Federação Russa. Na cidade portuária de Mariupol, no leste da Ucrânia, que tornou-se um símbolo da devastação imposta pelas tropas russas, autoridades instaladas pelo Kremlin também comemoraram o feriado. O local agora conta com uma nova placa, pintada com as cores azul, vermelha e branca. A estrada que leva à cidade também foi “decorada” com bandeiras russas.
Segundo a rede australiana ABC, a cidade de Kherson, que também abriga um porto no sul do território ucraniano, recebeu um festival de bandas russas. Os músicos subiram ao palco montado em uma das praças centrais para “animar” o feriado em umas da regiões ocupadas pelas tropas de Putin, relatou a agência de notícias estatal russa RIA Novosti.
Na região de Zaporizhzhia, que também fica em um território do sul da Ucrânia tomado pelas forças russas, autoridades pró-Moscou hastearam uma bandeira russa no centro da cidade de Melitopol.
Para os EUA, data foi desvirtuada
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, falou sobre o Dia da Rússia lembrando o 12 de junho há 32 anos, data que marca o desmembramento progressivo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
“O dia 12 de junho de 1990 marcou um passo importante no cumprimento das aspirações do povo da Rússia por liberdade, democracia e a quebra das barreiras que os separam do resto do mundo”, disse Blinken. “Infelizmente, essa não é a realidade na Rússia de hoje, onde o Kremlin intensificou sua repressão contra a sociedade civil e a mídia independente”.
A autoridade da Casa Branca destacou que a repressão interna ocorre enquanto o Kremlin trava uma guerra não provocada e injustificada contra um Estado soberano vizinho.
“O governo da Rússia está tentando manter seus cidadãos no escuro sobre as atrocidades que está cometendo contra o povo da Ucrânia. A guerra do Kremlin deixou a nação isolada internacionalmente e está privando os cidadãos russos da possibilidade de construir um futuro melhor em harmonia com seus vizinhos”.
Mal-estar diplomático no Canadá
No domingo (12), a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Melanie Joly, repreendeu Yasemin Heinbecker, que ocupa um cargo importante na diplomacia do país, pela participação de um jantar comemorativo na embaixada russa em Ottawa em celebração ao Dia da Rússia, segundo informou o jornal local The Globe and Mail.
Pelo Twitter, Joly definiu a atitude da diplomata como “inaceitável”, dada a forte condenação do Canadá à guerra “injusta” promovida pelos russos na Ucrânia.
This is unacceptable. No Canadian representative should have attended the event hosted at the Russian embassy & no Canadian representative will attend this kind of event again.
— Mélanie Joly (@melaniejoly) June 12, 2022
🇨🇦 continues to stand with 🇺🇦 as it fights against Russia’s egregious invasion. https://t.co/azkvbhupiv pic.twitter.com/iZ2zRn1gJj
Mais tarde, Joly emitiu uma declaração de desculpas, dizendo que acreditava que nenhum diplomata canadense deveria ter participado do evento organizado na Embaixada da Rússia.
Relações com a Indonésia em alta
Enquanto a tendência global é de isolar Moscou, a embaixadora russa na Indonésia, Lyudmila Vorobieva, durante uma conferência virtual em celebração ao Dia da Rússia, não poupou elogios à crescente cooperação entre seu país e a nação insular do sudeste da Ásia. De acordo com a autoridade diplomática, o volume de comércio bilateral aumentou em 47% em 2021. As informações são do portal Antara News.
“Nossa cooperação econômica está crescendo rapidamente. No ano passado, nosso volume de comércio bilateral aumentou 47%”, disse a embaixadora.
Ela também mencionou que a Rússia está pronta para desenvolver cooperação nas áreas de energia, incluindo energia verde e renovável, exploração espacial e transferência de alta tecnologia.