A fim de cortar laços com Moscou, Ucrânia proíbe participação russa em privatizações

Medida pretende impulsionar a economia do país, driblar corrupção e buscar autonomia da influência russa

A Ucrânia decretou que os russos serão terminantemente proibidos de participar de uma nova e enorme leva de privatizações de empresas estatais do país, afirmou Dmitro Sennychenko, um alto funcionário do governo, ao site norte-americano Daily Beast.

A medida pretende impulsionar a economia ucraniana, limpar a corrupção institucional e, ao mesmo tempo, libertar a nação da influência russa no período em que a ex-república da União Soviética celebra o 30º aniversário de independência.

O anúncio ocorre em uma atmosfera tensa, após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deslocar 100 mil soldados para a fronteira com a porção oriental da Ucrânia no início deste ano, ao mesmo tempo em que investidores e oligarcas pró-Rússia continuam tentando aumentar sua influência em Kiev.

Servidor a serviço da Naftogaz, maior empresa nacional de petróleo e gás da Ucrânia (Foto: Twitter/Reprodução)

Antes da reunião do presidente Volodymyr Zelensky com o líder norte-americano Joe Biden, em Washington, marcada para 30 de agosto, a Ucrânia trabalha em um plano anticorrupção que pretende tirar mais de 3 mil empresas das mãos de funcionários do Estado. Com isso, o país quer incentivar os investidores estrangeiros a ajudarem na criação de um ambiente mais moderno.

Sennychenko, que é chefe da agência de propriedade estatal que supervisionará as privatizações em massa, diz que estudou vários modelos de transformação das democracias em desenvolvimento nos Estados Unidos: “Precisamos que Biden nos ajude a acelerar e concluir as reformas não em 30, mas num prazo de três a cinco anos. Por isso precisamos tanto do apoio dos EUA”.

Como contrapartida, o funcionário governamental alega que “a América precisa de nós porque temos muitos recursos naturais, incluindo minerais raros, incluindo titânio, magnésio, lítio… Nosso principal objetivo é abrir nossa economia. Neste momento, temos cerca de 3,6 mil empresas estatais administradas de forma ineficaz”.

Varredura da corrupção

Para tornar a Ucrânia mais atraente aos investidores estrangeiros, Kiev impôs uma agenda contra a corrupção em várias frentes. No início deste mês, Zelensky declarou o início da “desoligarquização” da Ucrânia, buscando livrar-se da influência política de magnatas pós-soviéticos.

Daria Kaleniuk, diretora do Centro de Ação Anticorrupção, afirma que o país tem encontrado dificuldade para erradicar a corrupção e a influência russa. “Estamos lutando para reformar nossos sistemas judicial, de segurança e de gestão”, disse ela. “O [serviço secreto ucraniano] SBU tinha fortes laços com a FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) russa, e ainda há cidadãos russos na nossa agência.”

Um dos maiores paradoxos do país é Dmytro Firtash, um bilionário ucraniano que possui 70% da rede regional de gás da Ucrânia e foi indiciado nos Estados Unidos sob a acusação de conspirar para suborno.

Firtash, que relatou ligações com grupos do crime organizado e supostos vínculos com Putin, está em prisão domiciliar na Áustria lutando contra a extradição para os EUA. Ele se tornou famoso nos últimos anos por seu envolvimento com Paul Manafort, gerente de campanha do ex-presidente Donald Trump.

Encontro nos EUA

Zelensky viajará para a Casa Branca em 30 de agosto, em situação desconfortável depois que Biden deu luz verde ao gasoduto Nord Stream 2, que permitirá à Rússia bombear gás natural diretamente para a Europa com isenção de taxas de trânsito para a Ucrânia.

Os apelos para que as autoridades americanas parem o Nord Stream 2 podem ter caído em ouvidos surdos, mas a Ucrânia espera desesperadamente que Biden faça mais para ajudar. Segundo a reportagem, “sem o apoio dos EUA contra a agressão de Putin, muitos temem que a Ucrânia não administre mais 30 anos como nação independente”.

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