Empresas russas enfrentam crise financeira com risco de falências em massa, à medida que o Banco Central eleva a taxa de juros para 21% e planeja novos aumentos em dezembro. Desde o segundo trimestre de 2023, a entidade monetária vem aumentando os juros para conter a inflação e estabilizar o rublo, mas o custo elevado dos empréstimos tem colocado pressão sobre o setor corporativo. Atualmente, muitas empresas dedicam até 25% de suas receitas apenas para pagar juros. As informações são do The Moscow Times.
A crise é agravada pelo acúmulo de dívidas com taxas variáveis, especialmente após a invasão da Ucrânia. Antes da guerra, apenas 20% dos empréstimos corporativos tinham juros variáveis; em meados de 2023, essa fatia saltou para 44%. Empresas recorreram a esses empréstimos para financiar a substituição de importações, devido às sanções, e para adquirir ativos de empresas estrangeiras que deixaram o país, apostando que os juros iriam se estabilizar ou cair. No entanto, essa previsão não se concretizou.
A alta das taxas gerou um aumento do risco de inadimplência, com juros efetivos chegando a 25%, segundo fontes como o site de notícias independente em língua russa Meduza. Atrasos nos pagamentos de clientes indicam que muitas empresas enfrentam dificuldades para saldar suas dívidas. O ciclo de aumentos do Banco Central continua, impulsionado por gastos governamentais elevados que aqueceram a economia e alimentaram a inflação, deixando o setor corporativo em um estado de alerta máximo para 2024.
No final de 2024, os empréstimos de taxa variável atingiram 53% dos financiamentos corporativos na Rússia, contribuindo para o aumento da inflação devido à desvalorização do rublo e ao crescimento dos gastos públicos. Em resposta, o Banco Central elevou os juros, agravando a situação financeira das empresas.
Para antecipar novas regulamentações de crédito mais rígidas previstas para o fim do ano, as companhias aumentaram seus empréstimos em 22% em 2023. No entanto, o cenário econômico, que até então apresentava crescimento de 3,6% em 2023, deve desacelerar em 2025, intensificando a pressão sobre as finanças corporativas.
Dados do Fedresurs (Registro Federal Unificado de Declarações de Falência) indicam um aumento de 20% nas falências de empresas neste ano, impulsionado por juros altos e falta de liquidez. Segundo o Meduza, os atrasos em pagamentos também dispararam, afetando 37% dos empresários, em comparação aos 22% registrados anteriormente.
O setor de varejo é um dos mais afetados, com a União de Shopping Centers da Rússia apelando ao governo por medidas de alívio, como subsídios a taxas de juros e reestruturação de dívidas. Sem essas ações, até 200 shoppings podem enfrentar falência nos próximos meses, enquanto proprietários de escritórios e armazéns buscam renegociar condições de pagamento para evitar insolvência.
Sergei Chemezov, CEO da Rostec, conglomerado de defesa estatal, alertou que o atual ambiente de crédito é insustentável para empresas com ciclos de produção longos. Segundo ele, mesmo com altos lucros das vendas de armas, a dívida com juros acima de 20% torna inviável a operação. Pagamentos antecipados cobrem apenas 40% dos custos de produção, obrigando as empresas a recorrerem a empréstimos que eliminam os lucros.
O oligarca Alexei Mordashov, fundador da siderúrgica Severstal, afirmou que, com as altas taxas de juros, é mais vantajoso para as empresas reduzir operações e investir em bancos do que continuar expandindo e assumindo riscos, segundo o Meduza.