O governo britânico enfrenta pressão crescente para endurecer sua abordagem em relação à China após a revelação de que um empresário chinês, expulso do Reino Unido, teria usado seus laços com o príncipe Andrew para acessar figuras-chave da elite política e econômica do país. As informações são do jornal The Guardian.
Ministros têm sido cobrados para implementar o esquema de registro de influência estrangeira (FIRS, na sigla em inglês), que foi adiado para o próximo ano. O programa exige que indivíduos ligados a potências estrangeiras declarem atividades de influência política no Reino Unido. Há apelos para que a China seja incluída na categoria mais rigorosa de monitoramento, ao lado de países como Rússia e Irã.
Relações controversas
O ex-ministro de Segurança Tom Tugendhat defendeu a inclusão da China na categoria avançada do FIRS, afirmando que o esquema foi projetado para rastrear ações de organizações como o Departamento de Trabalho da Frente Unida, vinculado ao Partido Comunista Chinês (PCC).
“É essencial que a China esteja no esquema avançado para detectar tentativas de influência como esta”, declarou ele.

Por outro lado, o governo liderado pelo Partido Trabalhista enfrenta críticas de parlamentares de oposição e até de sua própria base. O ex-líder conservador Iain Duncan Smith classificou as revelações como um alerta sobre os riscos de uma postura mais branda com Beijing.
“Temos que aprender as lições do passado. Tentamos construir relações positivas com a Rússia, e isso nos custou caro. Não podemos repetir o erro com a China”, afirmou.
Espionagem e política
A identidade do empresário chinês permanece protegida por uma ordem judicial, mas parlamentares conservadores sugerem que seu nome pode ser revelado sob o privilégio parlamentar. Chris Philp, ministro sombra do Interior, afirmou esperar que a ordem de anonimato seja cancelada, argumentando que outras pessoas “podem ter tido contato com esse indivíduo”.
As tensões surgem em um momento sensível, com o governo trabalhista buscando reaproximar-se de Beijing. Visitas planejadas à China por Rachel Reeves, ministra das Finanças, e Keir Starmer, primeiro-ministro, reforçam essa estratégia. Reeves deve viajar em janeiro, enquanto Starmer fará a primeira visita de um premiê britânico ao país em sete anos.
Laços com a realeza
O empresário expulso foi fotografado ao lado de Andrew em eventos no Palácio de St. James e mantinha correspondências que indicavam um alto nível de confiança com o duque de York. Em uma carta de 2020, um conselheiro de Andrew o descreveu como ocupando “o topo de uma árvore que muitos desejariam escalar”. O príncipe negou ter discutido questões sensíveis com o empresário e afirmou ter cortado relações assim que as preocupações foram levantadas.
Segundo documentos judiciais, o empresário chegou a representar Andrew em iniciativas financeiras internacionais. As investigações apontaram, ainda, que ele teria utilizado sua posição para cultivar relações com políticos britânicos e figuras empresariais, muitas vezes em benefício de interesses chineses.
Com as questões Londres-Beijing sob o microscópio, as críticas à postura do governo incluem alertas sobre a dificuldade de separar interesses comerciais de questões de segurança nacional.
“Você não pode tratar a China apenas em termos comerciais”, afirmou o parlamentar trabalhista Blair McDougall. “Minha visão é a de que, com regimes autoritários, se você dá um centímetro, eles tomam um quilômetro.”