EUA falam em 75 mil russos mortos ou feridos, quase metade do efetivo inicial na Ucrânia

Deputada norte-americana vê tropas de Moscou "atoladas e cansadas" e prevê grande contraofensiva ucraniana para reconquistar posições no sul do país

O governo dos EUA calcula em 75 mil o número de soldados russos mortos ou feridos até agora na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro. Os dados, que segundo a rede Radio Free Europe representam quase a metade do efetivo inicialmente enviado por Moscou à Ucrânia, foram repassados a legisladores norte-americanos em um briefing confidencial na quarta-feira (27).

“Fomos informados de que mais de 75 mil russos foram mortos ou feridos, o que é enorme”, disse a deputada democrata Elissa Slotkin, de acordo com a rede CNN. “Você tem uma quantidade incrível de investimento em suas forças terrestres, mais de 80% de suas forças terrestres estão atoladas e estão cansadas”.

Na semana passada, uma estimativa de Washington sugeriu que cerca de 15 mil soldados russos haviam morrido, com até 45 mil feridos. Os números, tantos os anteriores quanto os mais recentes, são bem diferentes dos fornecidos por Moscou, que trata a questão como segredo de Estado. A última vez em que divulgou dados foi em 25 de março, quando falou em 1.351 soldados mortos.

Membros das forças armadas da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)

E a projeção não é boa para os russos, por duas razões. A primeira é a expectativa de que Kiev lance uma grande contraofensiva para reconquistar posições vitais no sul do país nas próximas semanas. A outra, a alegação de governos ocidentais de que a Rússia enfrenta uma incômoda escassez de mão de obra, tendo inclusive recorrido a soldados pouco treinados e até a presidiários para aumentar seu efetivo.

“Acho que o que ouvimos com muita firmeza do presidente Zelensky e reforçamos hoje é que os ucranianos realmente querem atingir a Rússia algumas vezes antes do inverno chegar, colocá-los na melhor posição possível, principalmente no sul”, afirmou Slotkin.

Para atingir seu objetivo, a Ucrânia contará com ainda mais apoio norte-americano, com a promessa de que novas armas serão enviadas para reforçar as tropas do presidente Volodymyr Zelensky. O destaque do novo pacote militar é o sistema de mísseis de longo alcance ATACMS, que pode atingir alvos a até 280 quilômetros de distância.

Se o armamento de fato chegar às mãos de Kiev, será um adicional importante. Até agora, o protagonista das forças armadas ucranianas é o Sistema de Artilharia de Foguetes de Alta Mobilidade (HIMARS, na sigla em inglês), capaz de atingir alvos a até 70 quilômetros de distância.

Há duas semanas, até as forças russas admitiram o impacto do armamento. “Os sistemas de defesa aérea russos acabaram sendo ineficazes contra ataques maciços de mísseis HIMARS“, disse Igor Girkin, ex-comandante das forças separatistas no leste da Ucrânia, que falou no Telegram. Segundo ele, graças à nova arma, as tropas russas sofreram “grandes perdas de homens e equipamentos” recentemente.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Esses conflitos foram usados por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país. Segundo Putin, a invasão serviria para libertar os cidadãos de etnia russa que vivem na Ucrânia sob opressão de Kiev.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região. O sul ucraniano também entrou na mira, com diversas áreas agora ocupadas por Moscou.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar a Rússia de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, quase mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

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