Rússia tem recrutado presidiários para reforçar seu exército, afirma ONG

Denúncia foi confirmada por detentos e parentes. A FSB e os mercenários do Wagner Group seriam responsáveis pelo recrutamento

As forças armadas da Rússia têm aumentado seu efetivo na Ucrânia através do recrutamento em massa de presidiários que supostamente teriam aceitado a missão de atuar em territórios ucranianos ocupados. A informação foi divulgada pela ONG de direitos humanos Gulagu.net e reproduzida pelo jornal independente The Moscow Times.

A convocação dos detentos para lutar na guerra teria sido feita pela FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) e pela organização paramilitar Wagner Group. Os centros de recrutamento seriam colônias penais das regiões de São Petesburgo, Tver, Ryazan, Smolensk, Rostov, Voronezh e Lipetsk.

De acordo com a ONG, por volta de 300 prisioneiros de Adygeya, no sul da Rússia, teriam concordado em se juntar às tropas russas na Ucrânia. As missões deles seriam colaborar para a implantação do regime de Moscou em territórios ocupados e atuar na remoção de minas terrestres.

Um vídeo obtido pela Gulagu.net mostra uma cena de recrutamento na colônia penal de Adygeya. As imagens revelam presidiários vagando pelo pátio da prisão antes de serem abordados por membros do Wagner Group para uma conversa sobre o alistamento militar.

A denúncia cita ainda que outros 70 presos foram recrutados em dois presídios diferentes de Nizhny Novgorod. A denúncia, de acordo com a ONG, foi confirmada por detentos e parentes deles, que entraram em contato com a entidade para expor o caso.

O recrutamento nada convencional seria uma forma de as forças armadas da Rússia compensarem a perda de efetivo durante a guerra, que tem se mostrado bem mais dura para Moscou que o projetado inicialmente, devido à feroz resistência das forças ucranianas.

Soldado das Tropas Aerotransportadas Russas, foto de maio de 2017 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

Desde o início da guerra na Ucrânia, o tema do recrutamento militar tem ganhado destaque na Rússia, sobretudo em função das denúncias de que as forças armadas têm usado também conscritos, que são jovens enviados para combater mesmo que contra a própria vontade. O governo sempre negou a informação, alegando usar apenas soldados profissionais, todos voluntários com contrato assinado.

No entanto, em março, o Ministério da Defesa admitiu que alguns conscritos foram enviados por engano, mas já teriam sido levados de volta à Rússia. Mais tarde, no início de junho, a Justiça militar abriu procedimentos disciplinares contra ao menos 12 oficiais de suas forças armadas acusados de enviar conscritos à guerra.

“De acordo com a supervisão do Distrito Militar Ocidental, cerca de 600 soldados conscritos foram atraídos para a operação militar especial, todos os quais retornaram o mais rápido possível”, disse o promotor Arthur Yegiev, falando à câmara alta do parlamento russo.

A questão é sensível no país, e Moscou teme insatisfação popular generalizada com as eventuais mortes de jovens na guerra. Há inclusive registros de entidades que representam mães russas alegando que os filhos foram combater sem treinamento adequado, de forma a compensar a queda do efetivo em função das mortes.

Legalmente, a questão gera debate. A legislação russa permite o envio de conscritos à guerra, desde que cumpram o período de quatro meses de serviço militar. O serviço militar no país é obrigatório para homens entre 18 e 27 anos. Porém, muitos conseguem evitar a convocação com base em dispensas médicas ou educacionais.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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