Ex-agente da CIA destaca ameaça russa crescente e risco de uma invasão aos países bálticos

Ralph Goff relata a preocupação da Lituânia e de seus vizinhos com agressões de Moscou e cobra resposta internacional mais firme

A expansão da influência russa na antiga esfera soviética, marcada por invasões e ações de desestabilização, acende alertas na Europa Oriental. Ralph Goff, ex-oficial sênior da CIA (Agência Central de Inteligência, da sigla em inglês) e especialista da plataforma de inteligência estratégica Cipher Brief, afirmou em entrevista que a Lituânia e outros países bálticos temem ser os próximos alvos do Kremlin, caso a Ucrânia e a Geórgia sucumbam às investidas da Rússia.

“A história dá motivos para esse ceticismo”, explicou Goff, citando os 70 anos em que as repúblicas bálticas viveram sob ocupação soviética. “Se a Ucrânia cair, a pergunta que eles fazem é: seremos os próximos?”.

Segundo ele, a Lituânia, em particular, está atenta à escalada de tensões na Geórgia, onde um governo pró-Rússia impede avanços rumo à Europa, e à guerra na Ucrânia, que já dura quase três anos.

Cerimônia de hasteamento da bandeira da Lituânia no Palácio Presidencial, em Vilnius (Foto: Guillaume Speurt/WikiCommons)

Apesar de ser um país pequeno, com três milhões de habitantes, a Lituânia tem liderado esforços de apoio à Ucrânia, tanto militar quanto político. “Os lituanos esvaziaram armazéns militares para enviar tudo o que podem ao front”, relatou Goff.

O país também cumpre e até supera as metas de defesa da Otan (Organização do tratado do Atlântico Norte), mas a população demonstra frustração com a inação de outros aliados europeus. “Eles estão liderando o caminho e perguntam: onde está o resto da Europa?”.

As ameaças russas vão além do campo militar e incluem ações como ciberataques, campanhas de desinformação e sabotagem de infraestrutura crítica, segundo o especialista, destacando que a situação na Geórgia é emblemática: “O governo, dominado por um oligarca alinhado ao Kremlin, mostra como um país pode ser enfraquecido por influência externa e corrupção”.

Além disso, Goff alertou para as implicações globais dessa escalada. “Não se trata apenas de conflitos entre Estados, mas de uma batalha de valores. Quando olhamos para quem está do lado da Rússia — Irã, Coreia do Norte e, à espreita, a China —, isso nos diz muito sobre o que está em jogo”, afirmou.

Para a Lituânia, que se vê como linha de frente contra a expansão russa, garantir segurança não é apenas um desafio local. O país exige mais ações concretas da Otan e proteção estratégica que vá além de promessas diplomáticas. “Eles sabem que acordos frágeis, como o de Budapeste, não impediram a agressão. O que precisam agora são garantias reais de segurança”, avalia o especialista.

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