Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pelas tropas da Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, a polícia nacional ucraniana já abriu mais de 125 mil processos relacionados a crimes de guerra supostamente cometidos pelos agressores, sendo que ao menos 133 mortes estão possivelmente ligadas a execuções sumárias. Um documentário produzido pelo jornal Financial Times expôs mais de 30 dessas execuções, que foram captadas por drones e celulares e reforçam a suspeita de que os assassinatos ocorrem ao longo de toda a linha de frente do conflito e fazem parte de uma política sistemática de Moscou que configura crime de guerra.
O Kremlin e os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores da Rússia não se manifestaram sobre as acusações, mas em ocasiões anteriores o governo russo classificou tais suspeitas como “propaganda”. Chegou a premiar soldados denunciados por Kiev por envolvimento na morte de prisioneiros de guerra.

Oleg Yakovlev, soldado de 32 anos da 30ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados da Rússia, foi identificado como suspeito de participar de uma dessas execuções. Em janeiro, um vídeo publicado em seu canal no YouTube, posteriormente removido, mostrava a execução de seis prisioneiros ucranianos desarmados, que foram obrigados a se dirigir a um monte de toras antes de serem mortos a tiros.
Os soldados russos no vídeo chamam o executor de “Sara”, apelido que Yakovlev usa em vídeos de rap e em outras postagens online. Investigadores ucranianos abriram uma investigação sobre o caso, e especialistas da Chartered Society of Forensic Sciences analisaram a voz do suspeito, encontrando “fortes elementos de similaridade” entre ele e o executor do vídeo. Contudo, a compressão de áudio nas redes sociais impede uma conclusão definitiva.
Yakovlev negou qualquer envolvimento direto na execução e declarou que o soldado no vídeo “matou aqueles caras por um motivo”. Autoridades ucranianas apontam que sua unidade já foi associada a múltiplos crimes de guerra, incluindo execuções sumárias. Em julho, o presidente russo Vladimir Putin concedeu um prêmio à brigada de Yakovlev por “bravura e heroísmo”.
Yuriy Belousov, chefe do departamento de crimes de guerra na Procuradoria-Geral da Ucrânia, afirmou que investigar execuções russas é a “prioridade número um”. “É definitivamente parte de uma política. É um sistema que vemos”, disse ele ao Financial Times.
A investigação que gerou o documentário reforça os indícios de que as execuções de prisioneiros ucranianos fazem parte de um esquema sistemático conduzido por forças russas. Segundo promotores e organizações de direitos humanos, as evidências sugerem que os crimes não são atos isolados de unidades descontroladas, mas sim um método intencional de eliminação de inimigos.
As autoridades ucranianas continuam reunindo provas para responsabilizar os envolvidos, com o objetivo de fortalecer o caso contra Moscou em tribunais internacionais. “Em qualquer território onde eles lutam contra nossos soldados, o risco de execuções é altíssimo”, concluiu Belousov.