Explosão que matou general em Moscou expõe a eficiente rede de espionagem da Ucrânia

Ataque com bomba controlada à distância eliminou Igor Kirillov, ampliando a disputa entre as potências de inteligência do Leste Europeu

Um ataque explosivo no coração de Moscou reacendeu os holofotes sobre a guerra de inteligência entre Rússia e Ucrânia. A bomba, escondida em uma scooter, matou o general Igor Kirillov, chefe das Tropas de Proteção Radiológica, Química e Biológica russas, e um assistente dele. A autoria do ataque foi assumida pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), que classificou o alvo como “criminoso de guerra”. As informações são do jornal Financial Times.

O ataque ocorreu ao amanhecer, quando Kirillov saía de um edifício residencial em Moscou. Segundo fontes próximas à investigação, o artefato, contendo entre 100 e 300 gramas de TNT, foi detonado remotamente por um agente sob ordens do SBU.

“Esse fim inglório aguarda todos que matam ucranianos”, declarou um porta-voz do SBU, reforçando que o general teria ordenado o uso de armas químicas contra forças do país.

Praça Vermelha, em Moscou, Rússia, durante o inverno (Foto: Vyacheslav Argenberg/WikiCommons)

Desde o início da invasão russa em 2014, o SBU intensificou suas operações além das fronteiras ucranianas, assumindo um papel central em ações de sabotagem, espionagem e eliminação de alvos estratégicos. A agência ganhou notoriedade após ataques contra a ponte da Crimeia e contra a frota russa no Mar Negro.

Segundo Andrei Soldatov, especialista em inteligência, a Rússia tem dificuldade em se defender dessas operações. “O FSB é eficaz em investigar o que já aconteceu, mas não em antecipar ameaças”, comentou.

Estrutura herdada da KGB

Com mais de 30 mil funcionários, o SBU é um dos maiores serviços de inteligência do mundo, equiparando-se em tamanho ao FBI, a polícia federal dos EUA. Essa estrutura, herdada da KGB após a independência da Ucrânia em 1991, permitiu ao SBU conduzir operações sofisticadas e identificar vulnerabilidades na rede de inteligência russa.

“O SBU transformou-se no que chamamos de ‘liquidadores de russos’”, afirmou um oficial de inteligência ucraniano. A agência também recrutou dissidentes russos para realizarem atos de sabotagem e assassinatos dentro do território da Rússia.

A estreita cooperação do SBU com agências de inteligência ocidentais, como a norte-americana CIA (Agência Central de Inteligência), tem sido fundamental para aprimorar suas operações. Essa parceria, iniciada em 2014, incluiu treinamentos e compartilhamento de recursos.

“Construímos tudo a partir do zero após a devastação de 2014”, disse Valentyn Nalyvaichenko, ex-chefe do SBU, referindo-se ao colapso da agência durante a anexação da Crimeia pela Rússia.

Competição interna e impactos

Embora a rivalidade entre o SBU e o GUR, a direção de inteligência militar da Ucrânia, seja evidente, ambas as agências frequentemente colaboram em missões críticas. No entanto, essa competição gera um cenário em que cada uma busca realizar ataques de maior impacto, como a recente morte de Valery Trankovsky, alto oficial da Marinha russa, em um atentado na Crimeia.

Para Moscou, os sucessos do SBU expõem falhas na segurança interna. “Os serviços secretos de Kiev atuam como se tivessem total impunidade na Rússia”, escreveu o jornalista russo Yuri Kotenok, refletindo a frustração dentro da defesa russa.

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