Rússia e China estão trabalhando em um programa secreto de armas destinado a desenvolver drones de longo alcance para serem utilizados contra a Ucrânia.
Segundo documentos analisados pela agência Reuters e informações de fontes, uma subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, chamada IEMZ Kupol, teria criado um novo modelo de drone chamado Garpiya-3 (G3) na China.
Os documentos indicam que a Kupol informou ao Ministério da Defesa russo que conseguiu produzir drones, incluindo o G3, em larga escala em uma fábrica na China, contando com a colaboração de especialistas locais.
Isso acontece enquanto Vladyslav Vlasiuk, conselheiro presidencial da Ucrânia, revelou que aproximadamente 60% dos componentes estrangeiros encontrados nas armas russas no campo de batalha ucraniano são provenientes da China.
Beijing tem negado repetidamente a acusação de fornecer armamentos ou peças a qualquer parte e afirma que não está envolvida no conflito na Ucrânia. O Ministério das Relações Exteriores da China declarou à Reuters que não tinha conhecimento de tal projeto, ressaltando que o país possui medidas rigorosas de controle sobre a exportação de drones e veículos aéreos não tripulados (UAVs).
Fabian Hinz, pesquisador do think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, da sigla em inglês), afirmou que, se a entrega de UAVs da China para a Rússia for confirmada, isso representará um acontecimento significativo na guerra.
Por outro lado, Samuel Bendett, membro do Center for a New American Security (CNAS), um think tank de defesa e segurança nacional dos Estados Unidos, destacou que Beijing relutaria em se expor a sanções internacionais ao apoiar o esforço de guerra de Moscou. Ele acrescentou que mais informações são necessárias para comprovar a existência de tal projeto.
Bendett afirmou à Reuters que a existência de uma fábrica oficial na China que produz UAVs para a Rússia poderia expor o país a severas sanções, levantando dúvidas sobre o quanto a China estaria disposta a se arriscar.
Conforme os relatórios da Kupol ao ministério, o G3 tem a capacidade de percorrer cerca de dois mil km com uma carga útil de 50 kg. Além disso, amostras do G3 e de outros modelos de drones produzidos na China foram enviadas à Kupol, na Rússia, para realização de testes adicionais.
A Kupol recebeu sete drones militares chineses, incluindo dois G3, em sua sede em Izhevsk, Rússia, conforme documentos revisados pela Reuters. As faturas, enviadas por uma empresa intermediária que conecta a Kupol a fornecedores chineses, não detalham datas de entrega nem identificam os fornecedores, e uma delas solicita pagamento em yuan chinês.
O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou à reportagem que o país mantém uma posição neutra em relação à guerra na Ucrânia, contrastando com outras nações que, segundo Beijing, têm “padrões duplos em vendas de armas” e que “alimentaram a crise ucraniana”. Enquanto isso, tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão se apressando para aumentar a produção de drones, que se mostraram armas extremamente eficazes no conflito.