França defende que Bashar al-Assad seja levado a julgamento por ‘milhares de mortes’

Ministra das Relações Exteriores acusa o presidente sírio de usar armas químicas e diz que ele "é inimigo de seu próprio povo há mais de dez anos"

O presidente da Síria, Basha al-Assad, é responsável por “centenas de milhares de mortes” e pelo “uso de armas químicas”, crimes que deveriam levá-lo ao banco dos réus. A afirmação foi feita na terça-feira (23) por Catherine Colonna, ministra das Relações Exteriores da França, conforme reportou a rede France 24.

De acordo com Colonna, “a batalha contra o crime e a impunidade faz parte da diplomacia francesa”, o que leva Paris a defender o julgamento do presidente sírio. “Temos que lembrar quem é Bashar al-Assad. Ele é um líder que é inimigo de seu próprio povo há mais de dez anos”, disse a ministra francesa.

A manifestação ocorre no momento em que al-Assad ensaia uma volta aos holofotes ainda em meio à guerra civil síria. Na semana passada, ele voltou a ser aceito em uma cúpula da Liga Árabe em Jeddah, na Arábia Saudita, após cerca de uma década de banimento.

Bashar Al-Assad, presidente da Síria (Foto: Wikimedia Commons)
Armas químicas

Uma das acusações de Colonna, a de uso de armas químicas na guerra da Síria, foi ratificada em janeiro deste ano em um relatório da Equipe de Investigação e Identificação (IIT, da sigla em inglês) da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas).

O documento concluiu que há “motivos razoáveis” ​​para acreditar que as Forças Aéreas Árabes da Síria tenham sido responsáveis por ataques com armas químicas.  

Com base na avaliação do grande volume de evidências coletadas e analisadas, o IIT concluiu que, na noite de 7 de abril de 2018, pelo menos um helicóptero das forças sírias jogou dois cilindros amarelos contendo gás cloro tóxico em dois prédios de apartamentos em uma área habitada por civis em Douma, que fica a 10 quilômetros da capital, Damasco. Pelo menos 43 pessoas morreram.

Antes, em 2017, o governo da Síria também teria usado os gases sarin e cloro em ao menos três ataques coordenados em Ltamenah, região central do país, segundo a Opaq.

Essa segunda investigação cobriu incidentes nos dias 24, 25 e 30 de março de 2017, que atingiram ao menos cem pessoas. Os gases usadas pela Síria nessas ocasiões foram banidos em 1997 pela Convenção de Armas Químicas.

Por que isso importa?

A guerra civil da Síria, que já dura mais de 11 anos, opõe Rússia e Irã, aliados de al-Assad, à Turquia, que apoia os rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS) na luta contra o governo.

A oposição apoiada pelos turcos e por líderes ocidentais exige a queda de al-Assad, a quem acusa de crimes contra a humanidade. Apoiadores do presidente, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.

Após sofrer duras perdas no início do conflito, as forças de al-Assad conseguiram reconquistar território graças à ajuda de seus aliados. A última região com forte presença da oposição armada inclui áreas da província de Idlib e partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia.

Em 2020 foi estabelecida uma trégua intermediada por Rússia e Turquia, incluindo os rebeldes e as forças do governo, enquanto grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI), ainda ativo na Síria, não fazem parte do pacto..

Desde então, Ancara conseguiu consolidar sua influência no norte do país, o que inicialmente ajudou a evitar uma nova etapa de combates e controlou o fluxo de refugiados. Porém, o governo turco retomou recentemente as operações militares, gerando insatisfação dos dois lados, tanto dos EUA quanto da Rússia.

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