General da Otan projeta fracasso de ofensiva russa: ‘Não têm a habilidade nem a capacidade’

Cristopher Cavoli diz que Moscou obtém avanços pontuais em Kharkiv e não conseguirá uma vitória capaz de mudar o conflito

A Rússia realiza atualmente em Kharkiv, nordeste da Ucrânia, uma ofensiva militar que Moscou trata como um sucesso. Mesmo entre as forças de Kiev há quem admita que estão sendo derrotadas. Entretanto, o principal comandante militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), general Cristopher Cavoli, avalia que as tropas russas não serão capazes de obter uma vitória decisiva na região, conforme relato do site Politico.

“Sei que os russos não têm os números necessários para realizar um avanço estratégico”, disse o militar após uma reunião dos chefes de defesa da aliança em Bruxelas, na Bélgica. “Eles não têm a habilidade nem a capacidade para fazer isso, para operar na escala necessária para explorar qualquer avanço e obter vantagem estratégica.”

Ainda de acordo com a autoridade da Otan, o que se observa atualmente é um pequeno avanço russo que não impactará na guerra de forma mais ampla. “Eles têm a capacidade de fazer avanços locais e fizeram um pouco disso”, analisou.

General Christopher Cavoli (à frente), imagem de setembro de 2021 (Foto: ganatlguard/Flickr)

As tropas de Moscou assumiram o controle de Kharkiv no início da guerra, logo após a invasão ao território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022. Porém, tão logo passou a receber armas do Ocidente e conseguiu estabelecer suas defesas, a Ucrânia reconquistou a região, que agora mais uma vez está ao alcance da Rússia.

Nas últimas semanas, com a ofensiva atual em curso, Moscou teria conquistado cerca de cem quilômetros do território que Kiev havia lutado duro para retomar. Na semana passada, um militar ucraniano ouvido pela rede BBC destacou a falta de resistência de suas Forças Armadas e atribuiu a situação a “corrupção”, “negligência” ou “traição”.

“Não havia primeira linha de defesa. Nós vimos isso. Os russos simplesmente entraram. Eles simplesmente entraram, sem nenhum campo minado. Ou foi um ato de negligência ou de corrupção. Não foi um fracasso. Foi uma traição”, disse o combatente. “Quando lutamos por este território em 2022, perdemos milhares de pessoas. Arriscamos nossas vidas. E agora, porque alguém não construiu fortificações, estamos perdendo pessoas novamente.”

No mês passado, o próprio Cavoli admitiu a situação delicada das forças ucranianas, que sofriam com a interrupção do fornecimento de armas pelos EUA. Naquela oportunidade, o general disse que Moscou tinha uma vantagem de cinco para um em relação a Kiev no número de disparos. Ou seja, a cada cinco tiros russos havia apenas um ucraniano. E que isso poderia aumentar para dez contra um em breve.

Agora, a esperança ucraniana de reação reside na retomada da ajuda dos EUA. Os parlamentares norte-americanos aprovaram a entrega de um pacote de US$ 95 bilhões destinado não apenas a Kiev, mas em menor escala a Taiwan e Israel.

Cavoli destacou essa ajuda como crucial, explicando que a Ucrânia receberá “grandes quantidades de munições, grandes quantidades de sistemas de defesa aérea de curto alcance e quantidades significativas de veículos blindados.”

O pacote militar, no entanto, servirá no máximo para reduzir a desvantagem ucraniana, não para colocar suas tropas acima das russas. Na mesma entrevista em que o general se manifestou, o almirante Rob Bauer, presidente do Comitê Militar da Otan, destacou a logística favorável da Rússia, que tem sua indústria focada nos esforços de guerra.

Sem perspectiva de um cessar-fogo, a Rússia compromete hoje 4,4% do PIB (produto interno bruto) com defesa, algo que mesmo a Otan não consegue equiparar. Nesta área, de acordo com Bauer, “estão realmente avançando mais rapidamente que nós na Europa e na América do Norte.”

Tags: