Sem apoio dos EUA, Rússia terá poder de fogo dez vezes superior ao da Ucrânia, adverte general

General Christopher Cavoli diz que a falta de munição de artilharia vem conduzindo o conflito cada vez mais para o lado russo

O general Christopher Cavoli, principal autoridade militar norte-americana na Europa, manifestou preocupação com a suspensão do apoio militar dos EUA à Ucrânia. Em depoimento ao Congresso norte-americano na quarta-feira (10), ele advertiu que a questão precisa ser solucionada com urgência, ou em breve a Rússia terá dez vezes mais poder de fogo que o rival. As informações são da agência Associated Press (AP).

“Eles agora estão sendo derrotados pelo lado russo por cinco contra um. Ou seja, os russos disparam cinco vezes mais projéteis de artilharia contra os ucranianos do que os ucranianos são capazes de responder. Isso irá imediatamente para dez contra um em questão de semanas”, disse o chefe do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA.

Ainda segundo a autoridade militar, essa não é uma possibilidade. É uma certeza. “Não estamos falando de meses. Não estamos falando hipoteticamente”, reforçou.

Ao justificar a projeção, Cavoli repetiu o que tem sido a principal preocupação ocidental na guerra: a escassez de munição de artilharia. Mesmo os estoques ocidentais agora estão reduzidos, justamente devido ao fornecimento dos países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a Kiev.

General Christopher Cavoli (à frente), imagem de setembro de 2021 (Foto: ganatlguard/Flickr)

“O maior assassino no campo de batalha é a artilharia. Na maioria dos conflitos, e neste definitivamente. Se a Ucrânia não tiver mais [munição], não terá porque paramos de fornecer, já que fornecemos a maior parte disso”, acrescentou o general.

Um recente relatório de inteligência da Otan, cujo conteúdo foi acessado com exclusividade pela rede CNN, alertou que atualmente a produção de munição pela Rússia é quase três vezes superior às de EUA e Europa somadas.

Moscou gerencia suas fábricas de munições de forma ininterrupta, com turnos rotativos de 12 horas, conforme relatou a aliança. Assim, tem atualmente condições de produzir 250 mil munições de artilharia por mês, o que equivale a três milhões por ano. Mesmo somando esforços, norte-americanos e europeus chegam a apenas 1,2 milhão ao ano.

Apesar do cenário, Cavoli instou Washington a retomar o fornecimento de munição a Kiev, atualmente travado devido a disputas políticas entre os dois partidos dominantes nos EUA, o Republicano e o Democrata.

“É um assunto muito complicado em um momento muito complicado. O tempo está passando e todos aqui sentem a urgência disso”, admitiu o presidente republicano da Câmara, Mike Johnson. “Os membros da Câmara continuam discutindo ativamente as nossas opções para um caminho a seguir.”

O general afirmou, ainda, que a capacidade de defesa territorial de Kiev desapareceria rapidamente sem os armamentos norte-americanos. “Esses ataques (russos) paralisariam totalmente a economia e a sociedade civil, bem como os militares da Ucrânia, se não fossem defendidos sem o fornecimento de interceptadores pelos EUA”, disse.

O problema, a longo prazo, poderia ser ainda maior, com uma eventual vitória encorajando Moscou a atacar as nações bálticas, Lituânia, Letônia e Estônia, membros da Otan. Em última instância, isso arrastaria as próprias tropas norte-americanas para a guerra, dada a obrigação de partir em defesa dos demais membros da aliança.

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