Guarda Costeira da Líbia é acusada de dificultar o resgate de 170 pessoas no Mediterrâneo

Vídeo mostra embarcação libanesa bloqueando um barco humanitário da ONG Médicos Sem Fronteiras que tentava o salvamento

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou acusações contra a Guarda Costeira da Líbia, alegando que a entidade de segurança marítima teve comportamento hostil e dificultou os esforços de resgate de mais de 170 pessoas em perigo no Mar Mediterrâneo, enquanto tentavam chegar na Europa. Em sua maioria, as vítimas eram refugiados sírios, conforme relatado pelo jornal The Guardian.

Em um comunicado, a MSF disse que um de seus navios humanitários esteve envolvido em uma missão de resgate no último sábado (16), visando dois barcos em águas internacionais. Um desses barcos, uma embarcação de fibra de vidro, transportava 28 pessoas, enquanto o outro, um barco de madeira de dois andares, levava 143 pessoas a bordo, todas aparentemente em situação precária.

A organização descreveu que, durante a abordagem ao barco maior, a Guarda Costeira da Líbia (LCG, da sigla em inglês) também se aproximou e, segundo a MSF, realizou manobras consideradas perigosas, colocando em maior risco os ocupantes a bordo.

A ação levou a reações críticas por parte da MSF, que denunciou a conduta da LCG como um “obstáculo adicional aos esforços de resgate em uma área já extremamente desafiadora”.

Migrantes resgatados no Mediterrâneo a bordo de um barco inflável (Foto: Commander, U.S. Naval Forces Europe-Africa/U.S/Flickr)

Em um vídeo feito pela tripulação de uma aeronave de apoio da organização de resgate marítimo NGOSea-Watch, uma embarcação de patrulha libanesa foi registrada entre dois barcos infláveis de resgate operados pela MSF. Um desses barcos já estava no processo de resgatar pessoas a bordo. No entanto, o posicionamento da patrulha, a julgar pelas imagens, estava impedindo o segundo barco de se aproximar da embarcação em perigo.

Um vídeo compartilhado no X, antigo Twitter, mostra um membro da MSF descrevendo as manobras perigosas do barco da LCG, que resultaram no bloqueio dos barcos infláveis de resgate usados na missão.

Juan Matías Gil, chefe da missão de busca e resgate da MSF na Itália, relatou que as pessoas a bordo dos navios eram “principalmente da Síria“, com várias crianças menores de 13 anos e diversos menores desacompanhados.

O incidente ocorreu após sobreviventes relatarem que cerca de 60 pessoas perderam a vida na semana passada no Mediterrâneo, partindo de Zawiya, na costa da Líbia. Os 25 sobreviventes afirmaram que o motor de seu bote falhou após três dias, deixando o grupo à deriva por vários dias antes de serem resgatados por outro grupo humanitário, o SOS Méditerranée.

Segundo a Frontex, agência de fronteiras da União Europeia, 4.315 pessoas atravessaram o Mediterrâneo da África para a União Europeia (UE) entre janeiro e fevereiro, com previsão de que o número aumente. A Organização Internacional para as Migrações (OMI) alerta que o Mediterrâneo continua sendo a rota mais perigosa, com mais de três mil mortes e desaparecimentos em 2023 e 300 até agora em 2024.

A União Europeia, que financia a guarda costeira libanesa, afirmou que todas as autoridades “agiram conforme o direito internacional”. Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, resgates no mar são obrigação internacional e “qualquer ação que coloque vidas em perigo deve ser evitada”.

Em março do ano passado, a Guarda Costeira da Líbia disparou tiros no ar contra o navio de salvamento Ocean King, que pertence a uma ONG. A entidade estava tentando responder a um pedido de socorro de uma embarcação de borracha que estava afundando.

Líbia e Tunísia são os principais ponto de partida para pessoas que fogem da situação de miséria e do extremismo na África e no Oriente Médio em busca de melhores condições de vida no continente europeu.

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