Hungria busca redefinir sua posição na Otan para não apoiar a Ucrânia

Viktor Orbán, que é próximo de Putin, alega que busca assegurar que Budapeste não participe de operações fora do território da Otan

Viktor Orbán, o autoritário primeiro-ministro húngaro, afirmou nesta sexta-feira (24) que Budapeste está buscando “redefinir” seu status como membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para ter a opção de não participar do reforço do apoio da aliança militar transatlântica à Ucrânia. As informações são da Bloomberg.

Durante uma entrevista à rádio estatal húngara, Orbán explicou que as autoridades e advogados húngaros estão trabalhando em um novo conjunto de princípios de adesão à Otan para o país.

“Os nossos advogados e oficiais estão a trabalhar arduamente para ver como a Hungria pode manter a sua adesão à Otan de uma forma que não tenha de participar em ações da aliança fora do território da Otan”, disse Orbán.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán (Foto: European’s People Party/Divulgação)

Orbán, conhecido por sua proximidade com o presidente russo Vladimir Putin, afirmou que a Rússia não conseguirá vencer a guerra contra Kiev. Ele argumentou que, se os russos fossem capazes de uma vitória rápida, já o teriam alcançado.

O premiê húngaro também acrescentou que Moscou não representaria uma ameaça ao Ocidente. “A força da Otan é incomparável à da Ucrânia. É cem vezes, talvez mil vezes mais poderosa, então não vejo lógica em presumir que a Rússia, incapaz de lidar com a Ucrânia, de repente iria dominar o mundo ocidental”, afirmou Orbán.

Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, a Hungria tem demonstrado uma relutância persistente em apoiar Kiev. Essa postura tem afetado algumas decisões da União Europeia (UE) em relação ao suporte à Ucrânia, já que muitas delas exigem o consenso dos 27 Estados-membros do bloco.

“Quantas mais armas vamos enviar? Quanto mais dinheiro vamos fornecer?”, questionou Orbán durante a entrevista. Ele manifestou preocupações sobre as implicações dessas decisões.

As declarações de Orbán surgem em um momento em que a aliança militar está preparando um pacote de apoio à Ucrânia, a ser apresentado na cúpula dos líderes em Washington, em julho. O pacote provavelmente incluirá um papel mais significativo da Otan na coordenação do fornecimento de armas e no treinamento das forças ucranianas.

Orbán enfatizou que a Hungria discorda fundamentalmente da visão de alguns membros da Otan de que a Rússia invadiria o flanco oriental da aliança militar após a Ucrânia. Ele argumentou que o conflito atual deve ser considerado como uma disputa entre “dois países eslavos”.

Zero colaboração

Embora a Hungria participe das discussões da Otan sobre o conflito, Orbán afirmou que o país adota uma postura de “não participação”, se opondo ao envio de recursos para a Ucrânia. Ele sugeriu que formalizar essa posição seria uma nova abordagem de adesão à Aliança Atlântica para a Hungria.

Orbán alimenta dúvidas sobre a sustentabilidade dessa situação, questionando por quanto tempo ela poderá ser mantida.

Durante a entrevista, o líder húngaro também encontrou espaço para expressar apoio à possível candidatura à reeleição do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, repercutiu o site Politico. Algumas capitais da UE estão preocupadas que, se Trump ganhar um segundo mandato, Orbán possa receber favoravelmente uma eventual iniciativa do hipotético chefe da Casa Branca para encerrar o conflito na Ucrânia, buscando um acordo de paz com Moscou e cedendo território reivindicado pelo Kremlin.

Aliança com Moscou

A Rússia tem se beneficiado das decisões de Orbán, que colaborou com o regime de Vladimir Putin ao atrasar um pacote de ajuda financeira à Ucrânia. O premiê resistiu o quanto pôde, mas acabou cedendo no final de janeiro, quando Budapeste finalmente retirou o veto que impedia a entrega de 50 bilhões de euros a Kiev.

Ainda assim, ele considerou sua posição reticente uma vitória, alegando que um mecanismo de revisão foi atrelado ao pacote de financiamento, garantindo o que chamou de “uso racional dos fundos”.

O jornal Financial Times diz que Orbán também colaborou com Moscou e Beijing ao bloquear um pacote de sanções da UE que seria imposto antes do aniversário de dois anos da guerra, no dia 24 de fevereiro. Os alvos seriam 200 indivíduos e entidades russos e chineses acusados de ligação com a guerra.

O que teria motivado o veto de Budapeste, entretanto, não seria a Rússia, e sim a presença de empresas da China na lista de alvos, segundo uma fonte que participou da reunião.

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