Investigação considera possível cooperação no ataque ao primeiro-ministro da Eslováquia

Investigadores sugerem que o suspeito de atirar em Robert Fico na semana passada pode não ter agido sozinho como se imaginava

O ministro do Interior da Eslováquia lançou uma nova perspectiva sobre o recente atentado contra o primeiro-ministro Robert Fico, baleado na última quarta-feira (15) na cidade de Handlova, cerca de 140 quilômetros a nordeste da capital Brastislava sugerindo que o suspeito pode não ter agido sozinho. As informações são da rede BBC.

Em coletiva de imprensa no domingo (19), Matus Sutaj Estok revelou que uma equipe está investigando a possibilidade de o ataque da semana passada não ter sido realizado por um “lobo solitário”, como se acreditava anteriormente.

Embora Fico já tenha passado por uma cirurgia de emergência e não corra mais risco de vida, seu vice-primeiro-ministro, Robert Kalinak, ressaltou que o político de 59 anos ainda necessita de cuidados intensivos. Quatro tiros teriam sido disparados pelo agressor, sendo que o premiê foi atingido no estômago. Ele estava em frente à Casa de Cultura de Handlova para se reunir com apoiadores no momento do atentado.

Robert Fico é declaradamente pró-Moscou (Foto: European Council/Flickr)

No sábado (18), o indivíduo acusado de tentativa de homicídio foi detido e permanecerá sob custódia até o julgamento. O suposto agressor ainda não foi formalmente identificado, mas relatos da imprensa eslovaca o apontam como Juraj Cintula, de 71 anos, residente na cidade de Levice. De acordo com fontes locais, Cintula é descrito como um “poeta ativo” em várias organizações políticas com diferentes ideologias.

Estok explicou que uma equipe de investigação foi estabelecida para investigar se o suspeito estava envolvido em um grupo de pessoas que poderiam ter se incitado e apoiado mutuamente. Ele enfatizou que essas informações foram fornecidas pelos serviços de inteligência. Além disso, destacou que apenas duas horas após o ataque e a posterior detenção do suspeito, seu histórico de conversas e sua conta no Facebook foram apagados.

No dia seguinte à tentativa de assassinato, Estok afirmou que o suspeito “agiu sozinho” e havia participado de protestos antigovernamentais no passado.

No início do domingo, Kalinak anunciou que, embora Fico ainda precise de cuidados intensivos, o estado de saúde dele melhorou significativamente. Ele fez esses comentários do lado de fora do hospital em Banska Bystrica, onde o premiê está sendo tratado, e acrescentou que a equipe médica está “otimista” quanto à recuperação de Fico.

No sábado, o Tribunal Penal Especializado de Pezinok ordenou que o suspeito, acusado de tentativa de homicídio, permanecesse sob custódia, segundo a rede ABC News. Os promotores manifestaram preocupação com a possibilidade de fuga ou cometimento de outros crimes se ele fosse libertado, conforme relatado por um porta-voz do tribunal. O suspeito tem o direito de recorrer da decisão.

No mês passado, Fico compartilhou em sua conta do Facebook sua preocupação de que as crescentes tensões no país pudessem resultar no assassinato de políticos. Ele culpou a mídia por alimentar essas tensões em uma população de 5,4 milhões de habitantes.

Além disso, o governo de coalizão tripartido da Eslováquia responsabilizou parcialmente os meios de comunicação por promoverem um discurso hostil que tem afetado o país da União Europeia (UE) nos últimos anos, causando profundas divisões sociais.

Parceiro do Kremlin

Aliado de Vladimir Putin e conhecido por suas posições contrárias à Ucrânia na guerra, Fico retornou ao cargo após as eleições parlamentares de outubro do ano passado. Ele e seu partido de centro-esquerda, o Smer, superaram Michal Simecka, da sigla liberal Eslováquia Progressista, que liderava as pesquisas de boca de urna.

A vitória de Fico levantou preocupações nos EUA e na União Europeia (UE) devido à postura anti-Kiev do premiê, semelhante à do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

Fico se opôs às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia e questionou o apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Ucrânia. Durante a campanha, pregou a suspensão do envio de armas ao país invadido e a atribuição de responsabilidade pela guerra também ao Ocidente e a Kiev, não somente a Moscou.

As políticas de Fico combinam elementos de conservadorismo social, nacionalismo, retórica anti-LGBT e promessas de benefícios sociais generosos, demonstrando uma agenda antiliberal eficaz, principalmente em pequenas cidades e áreas rurais. Ele já havia ocupado o cargo de primeiro-ministro, que deixou em 2018 devido a protestos após o assassinato de um jornalista que investigava a corrupção.

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