Investigação revela que a Rússia vem preparando uma operação de sabotagem no Mar do Norte

Moscou projeta futura guerra com o Ocidente e trabalha para comprometer o fornecimento de energia e a comunicação em países inimigos

Uma operação de sabotagem vem sendo preparada no Mar do Norte pelo governo da Rússia, que usa navios disfarçados de embarcações pesqueiras ou de pesquisa para identificar os futuros alvos. É o que aponta uma investigação conjunta realizada por emissoras públicas de Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia, com informações reproduzidas pela rede BBC.

O principal objetivo desses navios russos, que transitam pela região disfarçados, é mapear as águas que banham as costas da Escandinávia, do Reino Unido e do norte da Europa. Eles buscam, assim, identificar alvos em potencial para futuras operações, como parques eólicos e cabos de comunicação submarinos.

De acordo com um oficial dinamarquês do setor de contrainteligência, os russos vêm preparando tais ações para o caso de um conflito contra o Ocidente. Já uma fonte norueguesa, ambas não identificadas, afirmou que a operação é considerada prioritária e vem sendo coordenada diretamente pelo Kremlin.

O navio russo Almirante Vladimirsky: arma de sabotagem do governo da Rússia (Foto: WikiCommons)

O relatório das emissoras é focado em um navio russo em particular, o Almirante Vladimirsky, que oficialmente funciona como uma embarcação de pesquisa. A investigação interceptou comunicações em russo e constatou que o sistema de rastreamento é desligado para esconder a localização da frota russa enquanto navega no Mar do Norte.

Trata-se de uma estratégia comum usada por embarcações que agem ilegalmente, como por exemplo pesqueiros chineses que invadem o espaço territorial de outros países. Os próprios russos já usaram tal estratégia de esconder a localização em um esquema de ‘lavagem’ de grãos provenientes da Ucrânia durante a guerra.

Invisível ao radar, o Almirante Vladimirsky, que na verdade é um navio espião russo, conseguiu navegar perto de sete parques eólicos do Reino Unido e da Holanda e também foi identificada na costa da Escócia. A embarcação reduz a velocidade sempre que se aproxima do alvo, procedimento que se repetiu ao longo de um mês de navegação.

Embora a investigação tenha sido conduzida por jornalistas, o governo britânico diz estar ciente das atividades da frota russa e promete investigar melhor o caso se detectar qualquer ameaça à segurança nacional. O Reino Unido, porém, não forneceu outas informações sobre seus procedimentos no caso.

Jan Swillens, general das forças armadas da Holanda, confirmou que um navio russo foi avistado perto de um parque eólico do país em fevereiro, supostamente mapeando o local. “Vimos nos últimos meses atores russos tentando descobrir como o sistema de energia funciona no Mar do Norte. É a primeira vez que vimos isso”, disse ele.

Até agora, as informações obtidas sugerem que trata-se apenas de uma preparação para eventuais futuros casos de sabotagem. Questionado, o governo russo refutou as acusações e disse que a frota do país navega respeitando as leis locais.

Para especialistas, o objetivo final de Moscou seria prejudicar a geração de energia nos países servidos pelos parques eólicos ou interromper a comunicação através da destruição de cabos submarinos. Um desses cabos chegou a ser rompido no arquipélago norueguês de Svalbard no ano passado. Apesar da suspeita de que “atividade humana” tenha sido a responsável, não foi apontado um culpado.

As revelações da investigação são apresentadas em um documentário exibido por emissoras de televisão dos quatro países escandinavos responsáveis pela descoberta: Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia.

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