Um colegiado de juízes na França decidiu na quarta-feira (16) que a gigante da construção Lafarge será julgada por financiar o terrorismo, mais especificamente o Estado Islâmico (EI) e algumas de suas facções na Síria. Oito pessoas ligadas à companhia, entre elas o ex-CEO Bruno Lafont, gerentes e intermediários sírios, sentarão no banco dos réus, de acordo com o jornal Le Monde.
A decisão dos três juízes afirma que os acusados “têm, em uma lógica de procura de lucros para a entidade econômica que servem ou para algum lucro pessoal direto, organizado, validado, facilitado ou implementado uma política que pressupõe o envio de financiamento a organizações terroristas estabelecidas em torno da fábrica de cimento” que a Lafarge mantinha em Jalabiya, na Síria.

A relação entre a Lafarge e os extremistas ocorreu quando a empresa manteve operações no norte da Síria, no início da guerra civil que ainda assola o país. A gigante da construção teria pagado para manter uma fábrica de cimento em funcionamento na região, além de comprar matéria-prima e combustível de grupos armados. As instalações, perto de Aleppo, foram desativadas em 2014.
Além das acusações de financiamento do terrorismo, a mais alta corte do Judiciário francês havia decidido em janeiro que a Lafarge, atualmente parte do grupo suíço Holcim, também é cúmplice em crimes contra a humanidade cometidos no tempo em que tocou suas obras na Síria.
Em sua defesa, a Lafarge insiste que não tinha como determinar que o dinheiro iria para os extremistas. Em um primeiro momento, o argumento foi acolhido, e as denúncias de crimes contra a humanidade foram retiradas em 2019. Entretanto, em setembro de 2021 a suprema corte francesa reconheceu a acusação e derrubou a decisão favorável.
O caso tem desdobramentos também nos EUA, cujos promotores calculam em US$ 5,92 milhões a quantia entregue aos extremistas entre 2013 e 2014. Advogada do ex-diretor-operacional Christian Herrault, Solange Doumic criticou a Justiça francesa ao afirmar que o caso já deveria ter sido arquivado, mas segue em andamento “exclusivamente para satisfazer o Departamento de Justiça norte-americano”.