Justiça ucraniana condena sargento russo por atirar contra um prédio residencial

Mikhail Kulikov alegou que agiu cumprindo ordens ao disparar de um tanque e pediu pena mais branda, mas não convenceu o tribunal

A Justiça ucraniana condenou um sargento russo a dez anos de prisão nesta segunda-feira (8), após considerá-lo culpado por disparar de um blindado contra um prédio de 11 andares. O crime de guerra ocorreu na cidade de Chernihiv, no norte do país, em 26 de fevereiro, terceiro dia de conflito. As informações são do jornal britânico Daily Mail.

Segundo o gabinete do procurador-geral ucraniano, Mikhail Kulikov se declarou culpado de parte das acusações e, alegando cumprimento de ordens, pediu para que sua pena fosse suavizada. O bloco residencial atingido pelos disparos não era um alvo militar nem era usado para fins militares.

Mikhail Kulikov foi condenado a dez anos de prisão por disparar um tiro de um tanque em um prédio residencial (Foto: Twitter/Reprodução)

“Em 26 de fevereiro, sob a ordem de seu comandante, ele disparou contra um edifício residencial de 11 andares com civis. Vários andares foram destruídos”, detalhou o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). O blindado foi interceptado em seguida pelas forças ucranianas e Kulikov foi levado sob custódia.

Moscou nega que seu exército tenha civis como alvo de sua chamada “operação militar especial”.

A Ucrânia acusa 135 pessoas de ligação com aproximadamente 26 mil casos de crimes de guerra atribuídos às tropas russas durante o conflito iniciado no dia 24 de fevereiro. Segundo Yuriy Bilousov, chefe do departamento de crimes de guerra da Procuradoria-Geral ucraniana, 15 acusados estão sob custódia, enquanto os demais seguem foragidos.

A autoridade acrescentou que 13 casos de violação ao direito internacional já foram levados aos tribunais e sete sentenças foram emitidas. Entre elas a do soldado russo Vadim Shishimarin, primeiro militar a enfrentar um processo do gênero em quase meio ano de conflito. Ele foi condenado à prisão perpétua em maio, por matar um civil desarmado no dia 28 de fevereiro. 

Recentemente, um tribunal de apelações em Kiev aceitou o argumento da defesa do soldado, que argumentou que ele havia admitido as violações e estava agindo sob ordens. Com isso, a pena caiu para 15 anos.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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