Magnata obtém retratação por alegação de que comprou clube a mando do Kremlin

Roman Abramovich considera caluniosas informações a seu respeito no livro ‘O povo de Putin". Magnata não receberá dinheiro pelo acordo

Após processar uma jornalista por difamação, o proprietário do clube inglês de futebol Chelsea, o russo Roman Abramovich, chegou a um acordo nesta quarta-feira (22) com a editora HarperCollins, responsável pela publicação do livro Putin’s People: How the KGB Took Back Russia and Then Took On the West (O povo de Putin: como a KGB retomou a Rússia e depois conquistou o Ocidente, em tradução literal, sem versão em português). O bilionário considerou caluniosas informações a seu respeito que constam da obra, informou o jornal independente The Moscow Times.

Escrito por Catherine Belton, o livro analisa o papel da KGB no colapso da União Soviética e na ascensão de uma Rússia revanchista, alega que Abramovich comprou o time de futebol londrino a mando do Kremlin. E foi justamente essa passagem que gerou a indignação do magnata e sustentou a ação judicial movida por ele em Londres.

Roman Abramovich recebeu um pedido de desculpas da editora HarperCollins (Foto: WikiCommons)

A HarperCollins emitiu um comunicado anunciando que “resolveu sua disputa com Roman Abramovich sobre certas passagens de O Povo de Putin“, além de reconhecer que o livro traz “algumas informações imprecisas”. A editora também anunciou que irá fazer alterações, que serão lançadas em uma edição nova e atualizada. A reformulação excluirá cerca de 1,7 mil palavras.

A resolução entre as partes encerra uma disputa que se estendeu por meses e que poderia ter responsabilizado a editora e a jornalista por danos financeiros significativos, no caso de derrota. “Os casos foram resolvidos sem danos ou custos a serem pagos pela HarperCollins”, disseram editores.

Além do acordo que prevê a reformulação da obra, que deverá detalhar as motivações de Abramovich para a compra do clube, os editores concordaram em fazer uma doação de caridade de uma quantia não revelada, disse um porta-voz de Abramovich em um comunicado divulgado pelo Chelsea.

A trajetória de Abramovich envolve atuação na política, com destaque para oito anos em que esteve à frente do governo de Chukotka, uma região no Extremo Oriente da Rússia. Mas ele desvincula qualquer envolvimento do governo russo com a aquisição do clube, alega falta de provas e classifica as acusações como “falsas”.

“Estamos satisfeitos que a HarperCollins e a autora tenham pedido desculpas ao Sr. Abramovich e concordado em alterar o livro, removendo várias alegações falsas sobre ele. Essas declarações não tinham provas e eram de fato falsas. Isso segue a determinação da Suprema Corte inglesa de que o livro realmente inclui várias alegações difamatórias sobre Abramovich”, disse um porta-voz do dono do Chelsea em comunicado.

Autora compara situação à questão da Ucrânia

Segundo o jornal britânico The Guardian, apesar das revisões, o acordo é considerado uma vitória para Belton, que sofreu uma enxurrada de ataques legais sem precedentes de bilionários com ligações com o Kremlin.

Ela desabafou em um comunicado, dizendo que “o ano passado foi como uma guerra de desgaste”, na qual foi “bombardeada com processos judiciais” de quatro bilionários russos e da Rosneft, uma das maiores empresas petrolíferas do mundo que tem o governo russo como o maior acionista

“Embora os reclamantes neguem que seja coordenado, parece-me semelhante à campanha multifacetada do Kremlin contra a Ucrânia, na qual procura exaurir o Ocidente para fazer concessões de segurança sobre a expansão da Otan”, disse a autora.

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