Manifestantes usam pistolas d’água contra turistas e pedem limites ao turismo em massa na Espanha

Ato em Barcelona marca movimento coordenado contra o turismo excessivo em cidades do sul da Europa

Com pistolas d’água em punho, manifestantes em Barcelona e Palma de Mallorca, na Espanha, surpreenderam turistas no domingo (15) em protestos que pedem o fim de um modelo econômico baseado no turismo de massa. O movimento, que também teve atos em Portugal, na Itália e em outras cidades espanholas, mira os efeitos da superlotação turística no custo de vida e no caráter original desses destinos. As informações são da agência Associated Press (AP).

“O objetivo das pistolas d’água é incomodar um pouco os turistas”, disse com bom humor Andreu Martínez, de 42 anos, logo após esguichar um casal sentado em um café na capital catalã. “Barcelona foi entregue aos turistas. Esta é uma luta para devolver a cidade aos seus moradores.”

Barcelona, com 1,7 milhão de habitantes, recebeu 15,5 milhões de visitantes em 2023. A crescente presença de turistas tem pressionado os aluguéis e mudado o perfil comercial da cidade, segundo Martínez, que relata um aumento de mais de 30% no valor do aluguel de sua moradia. “Nossa vida, como moradores antigos de Barcelona, está chegando ao fim. Estamos sendo expulsos sistematicamente”, afirmou.

Vista de Barcelona a partir do Parque Guel (Foto: pixabay.com)

Em Palma, capital de Mallorca, cerca de cinco mil pessoas saíram às ruas, algumas também munidas de pistolas d’água, entoando frases como “Por toda parte, só se veem turistas”. A ilham, um dos destinos preferidos de britânicos e alemães, viu os preços dos imóveis dispararem com a transformação de moradias em aluguéis de curto prazo.

As ações do fim de semana marcaram uma ofensiva coordenada contra o chamado “turismo predatório”, com manifestações também em Granada, San Sebastián, Ibiza e na cidade italiana de Veneza, onde ativistas estenderam uma faixa pedindo a proibição de novos leitos em hotéis. Em Lisboa, manifestantes bateram panelas e gritaram palavras de ordem contra o turismo de massa.

O governo espanhol tem tentado responder à pressão popular sem comprometer um setor que representa 12% do PIB (produto interno bruto). No mês passado, ordenou a retirada de quase 66 mil anúncios de imóveis da plataforma Airbnb por descumprirem regras locais.

“O setor do turismo não pode comprometer os direitos constitucionais do povo espanhol”, afirmou o ministro dos Direitos do Consumidor, Pablo Bustinduy. Já o ministro da Economia, Carlos Cuerpo, reconheceu a necessidade de enfrentar os efeitos negativos do turismo em massa.

A decisão mais drástica partiu da prefeitura de Barcelona, que anunciou a revogação de todas as dez mil licenças de aluguel de curto prazo até 2028. A medida gerou reações de plataformas como a Airbnb, cujo diretor-geral para Espanha e Portugal, Jaime Rodríguez de Santiago, afirmou que a empresa virou “bode expiatório” das falhas das políticas públicas de habitação e turismo.

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