O governo da Rússia elaborou uma lista, atualmente com 79 nomes, de artistas e influenciadores banidos no país. A relação foi entregue a agências de publicidade e empresas de gestão de eventos que estão proibidas de usar em suas campanhas qualquer material que faça referência aos listados. As informações são do site Verstka.
A lista não chega a ser novidade e e existia antes mesmo da guerra, formada sobretudo por opositores do presidente Vladimir Putin. Porém, a relação cresceu bastante desde o início do conflito e hoje conta inclusive com artistas estrangeiros consagrados, como a banda de rock Metallica e a cantora pop Beyoncé, ambos dos EUA, incluídos na mais recente atualização.

No caso dos músicos, a presença na lista impede que canções de sua autoria sejam usadas em campanhas publicitárias, e os próprios artistas são impedidos de fazer propaganda de qualquer produto russo. Não está claro, porém, se bandas amadoras no território russo podem continuar executando musicas desses autores.
Para ter o nome adicionado à relação, nem é preciso se posicionar publicamente contra a guerra ou Putin. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, basta manter uma relação de amizade com alguém que tenha contestado o conflito ou criticado o presidente.
Se no caso dos estrangeiros a presença na lista tem pouco efeito, para os russos pode ser problemática. Há inclusive quem tenha se retratado publicamente, assumindo uma posição pró-Kremlin para ter o nome excluído. Mais que proteger interesses pessoais, o principal objetivo nesses casos é evitar que familiares passem a ser perseguidos pelo governo.
Por que isso importa?
Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas a partir do momento em que a Justiça local passou a usar a pandemia de Covid-19 como pretexto para punir grandes manifestações, alegando que o acúmulo de pessoas feria as normas sanitárias. Assim, para driblar o veto, tornou-se comum ver manifestantes solitários erguendo cartazes com frases contra o governo.
Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro de 2022, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março de 2022, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das Forças Armadas”.
Dentro dessa severa legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 22 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o Exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, eufemismo usado pelo governo para descrever a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.
Desde o início da guerra, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, reportou mais de 20 mil detenções em protestos contra a guerra em todo o país. A enorme maioria dos casos, cerca de 15 mil, foi registrada no primeiro mês de guerra. Depois, houve um pico entre setembro e outubro de 2022, devido à mobilização parcial de reservistas imposta pelo governo.