Mortes no Mediterrâneo em 2024 superam o recorde do início do ano passado

Ano de 2023 foi o mais mortífero no mar europeu desde 2016, e esta triste marca pode ser superada se o ritmo atual não diminuir

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Quase cem pessoas morreram ou desapareceram na travessia do Mediterrâneo Central e Oriental neste ano, mais que o dobro do número registado no mesmo período de 2023, o ano mais mortal para migrantes no mar na Europa desde 2016, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) na segunda-feira (29). 

A OIM sublinhou a necessidade de vias migratórias regulares durante cúpula de um dia em Roma, organizada pela Itália, para impulsionar o desenvolvimento em África e reduzir os fluxos migratórios.

A conferência Uma Ponte para a Vida Comum representou uma oportunidade crítica para examinar “mecanismos unificados e sustentáveis ​​para impedir novas perdas desnecessárias de vidas humanas em rotas traiçoeiras”, disse Amy Pope, diretora geral da agência, que esteve na cúpula.

“Mesmo uma morte é demais”, acrescentou ela, chamando os números mais recentes de “um lembrete claro de que uma abordagem abrangente que inclua caminhos seguros e regulares, pilar estratégico fundamental para a OIM, é a única solução que beneficiará tanto os migrantes como os Estados.”

A Itália está trabalhando para reforçar o seu papel como ponte entre Europa e África através de um modelo de cooperação, desenvolvimento e parceria igualitária, afirmou a OIM, e a cúpula se realiza no momento em que o número de pessoas presumidamente mortas ou desaparecidas no mar está subindo.

Migrantes resgatados durante a travessia do Mediterrâneo (Foto: divulgação/twitter.com/SOSMedFrance)
Desaparecido e dado como morto 

Três navios vindos da Líbia, do Líbano e da Tunísia nas últimas seis semanas, transportando 158 pessoas, estão desaparecidos, embora a OIM tenha registado 73 pessoas destes naufrágios “invisíveis” como desaparecidas e presumidamente mortas.   

Na quarta-feira passada (24), as autoridades resgataram um grupo de 62 migrantes ao largo do Cabo Greco, no sudeste do Chipre, que tinham deixado o Líbano em 18 de janeiro. A maioria está hospitalizada e descrita como gravemente doente, com várias crianças em estado crítico, uma das quais já morreu.  

Além disso, acredita-se que sete corpos que desembarcaram em Antalya, na Turquia, nos últimos dias, pertencem a um grupo de 85 migrantes desaparecidos desde que partiram do Líbano, em 11 de dezembro.  

O número anual de mortes e desaparecimentos de migrantes em todo o Mediterrâneo saltou de 2.048 em 2021 para 2.411 em 2022 e para 3.041 no final do ano passado, de acordo com o relatório da Banco de dados do Projeto Migrantes Desaparecidos da OIM.

Investir no desenvolvimento sustentável 

Mais de 20 líderes da África e da União Europeia (UE), bem como representantes de agências da ONU (Organização das Nações Unidas), do Banco Mundial e de outras organizações, participaram na conferência na capital italiana.

Ao fazer comentários, a secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, apelou pel apoio ao progresso da África, aumentando o investimento para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que estão lamentavelmente fora do caminho à medida que o prazo de 2030 se aproxima. 

Ela disse que isto inclui o endosso do plano anual de estímulo dos ODS de US$ 500 bilhões apresentado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

Reformar o sistema financeiro 

“A aceleração do desenvolvimento sustentável na África depende de um aumento no investimento privado. As instituições financeiras internacionais desempenham um papel fundamental para tornar isso uma realidade, tal como o sector privado”, disse Amina Mohammed. 

Ela também sublinhou a necessidade de “renovar” as instituições financeiras internacionais, que foram criadas há quase 80 anos, para que estejam preparadas para os dias de hoje.

“Os países africanos não estão representados de forma adequada. E as instituições não respondem suficientemente às suas necessidades. Já é hora de fazer as mudanças necessárias”, disse. “Também precisamos de novos quadros para abordar as novas tecnologias e ajudar a libertar o seu potencial para acelerar o progresso em direção aos ODS.” 

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