Moscou encomendou assassinato de desertor russo na Espanha, diz inteligência local

Maksim Kuzminov fugiu levando um helicóptero russo e o entregou a Kiev. Kremlin rotulou a vítima como 'cadáver moral'

A inteligência espanhola acusou o Kremlin de ter tramado o assassinato de Maksim Kuzminov, um piloto de helicóptero russo que desertou para a Ucrânia no ano passado em troca de uma bonificação milionária de Kiev. As informações são do site Politico.

O corpo de Kuzminov, que estava vivendo sob identidade falsa na Espanha, foi encontrado na cidade de Villajoyosa, a cerca de 450 km de Madrid, no dia 13 de fevereiro. Sua identidade foi verificada por meio das impressões digitais, já que os documentos que ele portava eram falsificados.

De acordo com relatos da imprensa local, a polícia informou que o militar russo foi morto a tiros pelos agressores antes de ser atropelado por um carro.

Helicóptero russo modelo Mi-8 (Foto: Anna Zvereva/WikiCommons)

Kuzminov havia recebido uma promessa de recompensa do governo da Ucrânia de US$ 500 mil (R$ 2,49 milhões) pela deserção. O que explica a quantia em dinheiro prometida ao piloto das forças armadas de Moscou é o fato de ele ter entregado a Kiev o helicóptero modelo Mi-8 que usou para fugir.

A gratificação oferecida ao piloto está prevista em uma lei aprovada pelo parlamento ucraniano que promete até US$ 1 milhão a militares russos que eventualmente troquem de lado e levem junto deles equipamento militar. 

Fontes na inteligência espanhola afirmam que será difícil vincular diretamente o assassinato a uma agência russa, mas acreditam que Moscou tenha contratado matadores de fora da Espanha para executá-lo.

Segundo as fontes, os serviços de inteligência espanhóis não foram informados sobre a presença de Kuzminov na Espanha, e desconheciam sua chegada ao país. Nesta semana, a porta-voz do governo, Pilar Alegría, se recusou a responder se o russo estava sob proteção policial espanhola, afirmando que o caso “está sob investigação”.

De acordo com fontes diplomáticas ouvida pelo jornal El País, Madrid promete uma resposta “enérgica” caso as autoridades confirmem o envolvimento do Kremlin.

Sergey Naryshkin, chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia, declarou à agência estatal russa TASS que Kuzminov era um “traidor e criminoso” que “se tornou um cadáver moral” ao planejar um crime “sujo e terrível”.

Militar era contrário à guerra

Kuzminov frequentou a escola de aviação de Sizran, localizada no sul da Rússia, porém, nunca demonstrou interesse em participar do conflito na Ucrânia. Sua história, que foi mostrada na televisão ucraniana, ganhou ares de propaganda: um sucesso para a Kiev e um vergonha para Moscou.

O militar diz que procurou Kiev para informar sobre o desejo de mudar de lado, argumentando que “não queria contribuir” com os crimes de guerra cometidos pelas forças de Moscou. Recebeu, então, a promessa de recompensa caso entregasse o helicóptero, bem como a garantia de que ele e os familiares teriam direito à cidadania ucraniana.

Kuzminov contou que voou em altitudes extremamente baixas para evitar a detecção por radar. O piloto explicou que, por alguns dias, ninguém na Rússia sabia o paradeiro do helicóptero até ele pousar na Ucrânia.

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