O preço do avanço russo: milhares de mortos por poucos metros de território

Documento vazado revela perdas massivas das forças russas e expõe as dificuldades do Kremlin para recrutar novos soldados

A guerra na Ucrânia segue cobrando um preço altíssimo da Rússia. De acordo com um documento russo vazado e obtido pela inteligência ucraniana, o país perdeu 281.550 soldados apenas nos primeiros oito meses de 2025. As informações são do Politico.

O relatório, divulgado em 6 de outubro, aponta que 86.744 russos morreram, 33.966 estão desaparecidos, 158.529 ficaram feridos e 2.311 foram capturados. As perdas são consideradas “astronômicas” para avanços microscópicos no campo de batalha.

O grupo independente Frontelligence Insight confirmou que os dados parecem “bastante precisos” e condizem com suas estimativas. Já o portal russo Mediazona, que monitora as mortes desde o início da guerra, contabiliza mais de 134 mil soldados russos identificados nominalmente.

Soldado ucraniano em tanque russo abatido (Foto: WikiCommons)
Perdas russas superam 1 milhão

As estatísticas revelam a estratégia desgastante e sangrenta do Kremlin, com proporções anormais entre mortos e feridos. Segundo o relatório, há apenas 1,3 feridos para cada morte, quando o normal seria 3 para 1, sinal de que os soldados russos raramente são resgatados após se ferirem.

Desde fevereiro de 2022, o Estado-Maior Ucraniano estima que o total de mortos, feridos e desaparecidos russos já ultrapassa 1 milhão, com média de mil perdas por dia.

Em fevereiro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que mais de 46 mil soldados ucranianos morreram e cerca de 390 mil ficaram feridos desde o início da guerra. “Em termos de perdas, as baixas russas são três vezes maiores que as nossas”, disse Zelensky em agosto.

Avanços lentos e combates intensos

O alto número de baixas resulta da pressão constante da Rússia em múltiplos pontos da linha de frente, uma estratégia que tem esgotado as forças ucranianas.

“Neste ano, a linha de frente se estendeu em cerca de 200 quilômetros. Além disso, há ainda 2.400 quilômetros sem combates diretos, mas que também precisamos defender”, afirmou o general Oleksandr Syrskyi, comandante do Exército ucraniano, em entrevista em Kiev, no fim de setembro.

“A situação geral permanece difícil. O inimigo continua avançando nas direções de Pokrovsk e Dobropillia, enquanto em outras áreas a intensidade é menor. De modo geral, a situação está sob controle”, acrescentou.

Recrutamento em colapso dentro da Rússia

Na tentativa de reforçar os efetivos, anúncios de recrutamento inundam ruas, redes sociais e até mensagens de celular na Ucrânia.

A Rússia também enfrenta problemas para recrutar. Algumas regiões oferecem bônus de até 2,5 milhões de rublos (cerca de R$ 166,9 mil), mas as altas taxas de mortalidade e as condições precárias de combate têm desestimulado voluntários.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), de Washington, estima que a Rússia recrute 31,6 mil soldados por mês, mas sofra 35 mil baixas mensais. “As forças russas parecem capazes, e dispostas, a sustentar essas perdas, apesar de avanços táticos limitados”, avaliou o ISW.

Kremlin busca soldados na África e no Oriente Médio

Os esforços russos de recrutamento internacional indicam que Moscou está encontrando dificuldades para preencher seus quadros internos.

Segundo a Frontelligence Insight, milhares de registros pessoais mostram cidadãos africanos e árabes contratados pelo Ministério da Defesa russo para lutar na Ucrânia. Entre 2023 e 2024, 394 pessoas dessas regiões assinaram contratos com a Rússia. No primeiro semestre de 2025, esse número subiu para 651, quase o dobro do ritmo anterior.

A maioria vem de países economicamente desfavorecidos, atraída por promessas financeiras tentadoras, o equivalente a até dez anos de salário médio local, e garantias enganosas de funções não combatentes, como cozinheiros, segundo a análise.

Os relatórios também apontam aumento dos bônus de alistamento, expansão do recrutamento em prisões e pressão crescente sobre os recrutas para assinarem contratos militares e serem enviados à Ucrânia.

“Tudo indica que a Rússia está tendo dificuldades para sustentar o recrutamento apenas com incentivos financeiros. Se essa tendência persistir, o Kremlin poderá ser forçado a escolher entre uma nova mobilização em massa ou enfrentar a mesma escassez de tropas que a Ucrânia”, disseram os analistas.

Condições letais no campo de batalha

Na Ucrânia, as condições para os soldados russos continuam devastadoras. Drones ucranianos caçam alvos individuais, artilharia e foguetes destroem linhas de suprimento, e o uso de blindados tornou-se raro devido ao alto risco de destruição.

Soldados enviados em ataques do tipo “ondas de carne” relatam baixas catastróficas. “Em junho de 2025, nossa equipe estimou que a Rússia estava perdendo entre 8.400 e 10.500 militares mortos por mês em combate”, informou a Frontelligence Insight.

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