Oficiais russos são denunciados pelo envio de conscritos à Ucrânia

Moscou sempre negou que jovens cidadãos tenham sido convocados pelo governo para servir ao país na frente de batalha

A Justiça militar da Rússia abriu procedimentos disciplinares contra ao menos 12 oficiais de suas forças armadas acusados de enviar à guerra na Ucrânia militares conscritos, que são jovens convocados pelo governo para servir ao país na frente de batalha. As informações são da agência Reuters.

Desde o início do conflito, Moscou vinha afirmando que apenas soldados profissionais fazem parte do que o governo classifica como “operação militar especial“. Em março, porém, o Ministério da Defesa admitiu que alguns conscritos foram enviados por engano, mas já teriam sido levados de volta à Rússia.

“De acordo com a supervisão do Distrito Militar Ocidental, cerca de 600 soldados conscritos foram atraídos para a operação militar especial, todos os quais retornaram o mais rápido possível”, disse o promotor Arthur Yegiev, falando à câmara alta do parlamento russo.

Segundo Yegiev, os casos foram apurados, e alguns dos responsáveis receberam punições disciplinares. Sem dar maiores detalhes sobre tais medidas punitivas, ele disse que há casos de oficiais dispensados do serviço.

A questão é sensível no país, e Moscou teme insatisfação popular generalizada com as eventuais mortes de jovens enviados à guerra. Há inclusive registros de entidades que representam mães russas alegando que os filhos foram combater sem treinamento adequado, de forma a compensar a queda do efetivo em função das mortes.

Legalmente, a questão também gera debate. A legislação russa permite o envio de conscritos à guerra, desde que cumpram o período de quatro meses de serviço militar. A guerra na Ucrânia teve início no dia 24 de abril, há pouco mais de três meses.

Soldado das Tropas Aerotransportadas Russas, foto de maio de 2017 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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