Opositor libertado por Belarus relata tortura e desnutrição após quase cinco anos de prisão

Sergei Tsikhanouski perdeu mais de 50 quilos e afirma ter sobrevivido a condições extremas de isolamento e fome no cárcere

O ativista Sergei Tsikhanouski, um dos principais líderes da oposição em Belarus, foi libertado no sábado (21) após quase cinco anos de prisão sob condições que ele descreve como tortura. Detido em 2020 por desafiar o presidente Alexander Lukashenko, ele reencontrou a família em Vilnius, capital da Lituânia, onde vive a esposa Sviatlana Tsikhanouskaia, também opositora exilada. As informações são da agência Associated Press (AP).

Ao falar com a imprensa no domingo (22), Tsikhanouski, de 46 anos, revelou ter perdido mais de 50 quilos durante o período de encarceramento. Segundo ele, além da fome, sofreu com isolamento prolongado, falta de atendimento médico e ameaças constantes. “Eles me diziam: ‘Você nunca vai sair daqui. Vai morrer aqui'”, declarou.

Sviatlana Tsikhanouskaia, líder democrática exilada de Belarus (Foto: European Parliament/Flickr)

Preso antes mesmo do início da campanha eleitoral de 2020, na qual pretendia concorrer à presidência, Tsikhanouski foi condenado a mais de 19 anos de prisão, em um processo amplamente criticado pela comunidade internacional. Sua esposa acabou assumindo a liderança da oposição no pleito, cuja vitória oficial de Lukashenko foi denunciada como fraudulenta por governos ocidentais e entidades de direitos humanos.

A libertação de Tsikhanouski ocorreu apenas horas depois de uma visita do enviado dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, a Minsk. O gesto de Belarus, aliado da Rússia, é visto por analistas como parte de uma estratégia para aliviar a pressão internacional. Desde meados de 2024, o governo já perdoou quase 300 presos políticos, incluindo cidadãos norte-americanos.

Emocionado, o opositor descreveu o reencontro com os filhos como um dos momentos mais marcantes desde a saída da prisão. “Minha filha não me reconheceu de imediato”, contou. “Quando ela entendeu, correu até mim chorando. Meu filho também chorou. Foram emoções indescritíveis.”

Tsikhanouski ainda atribuiu a libertação a uma possível tentativa do regime de Lukashenko de buscar um diálogo com o governo norte-americano. “Agradeço infinitamente a Donald Trump“, afirmou. “Eles querem que Trump, pelo menos um pouco, em algum lugar, os atenda. Estão prontos para soltar todos. Todos eles!”

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