Países da Otan têm soldados na Ucrânia e não temem reação russa, diz premiê da Estônia

Kaja Kallas diz que aliança não está diretamente envolvida no processo e que a decisão cabe às nações de forma independente

Soldados de países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) estão no território ucraniano oferecendo treinamento às tropas de Kiev em meio à guerra contra a Rússia, e a aliança não teme ser arrastada para o conflito por isso. A afirmação foi feita por Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia, em entrevista ao jornal Financial Times.

De acordo com a autoridade, “há países que já estão treinando soldados no terreno”, mas o fizeram por conta própria, sem envolver a Otan como bloco. Ela alega que tal situação exime a aliança de responder militarmente caso os militares ocidentais sejam atacados.

“Não consigo imaginar que, se alguém for ferido lá, então aqueles que enviaram o seu pessoal dirão ‘é o Artigo 5º. Vamos bombardear a Rússia.’ Não é assim que funciona. Não é automático. Portanto, esses medos não são bem fundamentados”, disse ela.

Primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas: outubro de 2017 (Foto: WikiCommons/EU Estonian Presidency)

O Artigo 5º é o mecanismo de solidariedade militar da Otan, segundo o qual todos os países-membros devem responder em bloco a um eventual ataque a uma nação afiliada. Como o envio das tropas foi feito sem anuência da aliança, Kallas diz que tal argumento não seria válido em caso de uma agressão aos soldados aliados.

“Se você enviar seu pessoal para ajudar os ucranianos, você sabe que o país está em guerra e vai para uma zona de risco. Então você corre o risco”, justificou a premiê. “A propaganda da Rússia é sobre estar em guerra com a Otan, por isso eles não precisam de desculpa. Se quiserem atacar, eles atacarão.”

O treinamento fornecido na Ucrânia soluciona um problema de logística da nação em guerra, que vem recrutando mais soldados conforme o conflito avança sem uma perspectiva de encerramento. De acordo com autoridades ucranianas e ocidentais, é mais eficiente preparar os novos militares dentro do país do que levá-los a nações vizinhas e depois reposicioná-los no campo de batalhas novamente.

Embora tenha confirmado a presença de soldados de países da Otan no terreno, Kallas não citou quais as nacionalidades deles. E disse que a Estônia ainda não tomou parte em tal processo, pois isso dependeria de um aval do Congresso. “É um debate público aberto, mas acho que não devemos descartar nada neste momento”, disse.

Na semana passada, no entanto, o conselheiro de segurança nacional Madis Roll disse que o envio de soldados para atuar em posições de “retaguarda” vem sendo debatido no país. “As discussões estão em andamento”, disse ele ao site Breaking Defense. “Deveríamos estar atentos a todas as possibilidades. Não deveríamos ter nossas mentes restritas quanto ao que podemos fazer.”

O forte apoio a Kiev se justifica. A Estônia, bem como seus vizinhos bálticos LetôniaLituânia e ainda a a Polônia, têm manifestado preocupação com a possibilidade de serem atacados pela Rússia. Segundo eles, uma vitória sobre a Ucrânia encorajaria o presidente russo Vladimir Putin a mirar em outros alvos que considere uma ameaça à segurança de seu país.

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