Parceria com o Irã permite que Rússia produza drones em série e contorne sanções

Acordo bilionário inclui transferência de tecnologia, entrega de ouro e expansão da indústria bélica russa com drones do tipo Shahed

A parceria com o Irã permitiu que a Rússia expandisse significativamente sua capacidade de fabricar drones de guerra e impulsionasse sua ofensiva contra a Ucrânia. Em dois anos, o acordo entre os dois países resultou na montagem de uma linha de produção de veículos aéreos não tripulados (VANTs), fortalecendo a indústria bélica russa mesmo sob duras sanções internacionais. As informações são do jornal The Washington Post, com base em relatório do centro de pesquisas C4ADS, com sede em Washington.

Segundo o documento, desde o início da colaboração, a Rússia passou a fabricar drones Shahed-136 — rebatizados localmente como Geran-2 — e conseguiu acelerar a produção a ponto de lançar até 300 desses dispositivos por noite contra cidades ucranianas. Cada drone transporta aproximadamente 53 quilos de explosivos e pode voar centenas de quilômetros até atingir o alvo.

Parte de um drone iraniano Shahed-136 abatido perto da cidade de Kupiansk, Ucrânia (Foto: WikiCommons)

Para contornar as restrições financeiras impostas por sanções ocidentais, os dois países montaram uma rede de pagamentos paralela, que incluiu a entrega de barras de ouro. Um trecho de contrato obtido pelo C4ADS detalha o envio de lingotes no valor de US$ 104 milhões (R$ 601 milhões), feito pela Rússia à empresa iraniana Sahara Thunder. A companhia, com atuação nos setores de petróleo e defesa, teve dez gigabytes de documentos vazados por um grupo de hackers em 2024, revelando os bastidores do acordo.

“Vimos que eles conseguiram avançar da importação do Geran-2 para uma versão local, e agora estão produzindo o Geran-3”, afirmou Omar Al-Ghusbi, autor do relatório. A nova versão, com motor a jato, é mais rápida e difícil de ser abatida pelos sistemas de defesa aérea da Ucrânia.

A fabricação local dos drones permitiu que a Rússia aumentasse sua autonomia tecnológica. Segundo o relatório, “para atender às mudanças nas missões, a Rússia pode alocar recursos adicionais para produzir ou modificar o Geran-2 sem suporte iraniano adicional”.

Embora os governos da Rússia e do Irã não tenham comentado oficialmente o novo relatório, um porta-voz iraniano já reconheceu, no passado, que os países mantêm “cooperação bilateral nas áreas de defesa, ciência e pesquisa, anterior ao início do conflito na Ucrânia”.

Dados do C4ADS indicam ainda que a Sahara Thunder iniciou um processo de liquidação meses após ser sancionada pelos EUA, o que pode indicar a criação de uma nova empresa com funções similares.

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