O motim ocorrido na Rússia no final de semana parece ter dividido em duas entidades distintas o Wagner Group, organização paramilitar privada que até então servia aos interesses de Moscou. Oficialmente, os mercenários agora estão sob a tutela do Kremlin, e a sede da entidade segue funcionando normalmente em São Petesburgo, a segunda maior cidade russa. Porém, os combatentes que participaram da rebelião, bem como o líder deles, Alexander Prigozhin, se exilaram em Belarus. Essa situação tem preocupado os países vizinhos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que já se colocaram em alerta e prometeram reagir de forma dura se ameaçados.
A aliança militar transatlântica se reunirá entre 11 e 12 de junho em Vilnius, na Lituânia, e a presença de membros do Wagner em Belarus será debatida. Desde já, porém, os países-membros têm se manifestado, e o tom não é nada amistoso. Inclusive, aumentaram a prontidão de suas tropas, de olho em eventuais confrontos com russos ou belarussos.
“Se o Wagner enviar seus assassinos em série para Belarus, todos os países vizinhos enfrentarão um perigo ainda maior de instabilidade”, disse o presidente lituano Gitanas Nauseda, de acordo com a agência Al Jazeera.
Wagner Group em Belarus
O “se” de Nauseda já se confirmou, ao menos parcialmente. Segundo a rede CNN, Prigozhin está em Belarus, mas não há informações sobre os mercenários que supostamente o acompanhariam.
“Vejo que Prigozhin já está voando neste avião. Sim, de fato, ele estará em Belarus hoje”, disse na terça-feira (27) o presidente belarusso Alexander Lukashenko, que intermediou o acordo para dar fim ao motim e convenceu o homólogo russo Vladimir Putin a poupar e perdoar o agora ex-líder do Wagner.
Na segunda-feira (26), Prigozhin disse que Lukashenko ofereceu a ele e aos mercenários a oportunidade de trabalharem no país sob “uma jurisdição legal”. Um indício de que o Wagner, ou o que restou dele, vai operar a partir de Belarus. “Eu poderia usar tal unidade no exército”, afirmou o presidente belarusso em reunião com o Ministério da Defesa do país.
Os legisladores belarussos, inclusive, ratificaram na quarta-feira (28) um acordo para permitir a instalação de “centros de treinamento de combate” no país. A ideia é dar aos mercenários uma sede com 1.780 beliches de quatro camas e 400 banheiros, capaz de abrigar cerca de oito mil soldados.
Minsk já teria começado a construir essas instalações. De acordo com o jornal independente The Moscow Times, estão em andamento obras em um complexo militar perto da cidade de Asipovichy, cerca de cem quilômetros a sudeste de Minsk.
Tropas da Otan de prontidão
Para a Otan, a situação é motivo de apreensão. “Isso é realmente sério e muito preocupante, e temos que tomar decisões muito fortes. Requer uma resposta muito, muito dura da Otan”, disse Andrzej Duda, presidente da Polônia.
O secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, reforçou o alerta após uma reunião com o presidente lituano em Haia, na Holanda. “Já aumentamos nossa presença militar na parte oriental da aliança e tomaremos novas decisões para fortalecer ainda mais nossa defesa coletiva com mais forças de alta prontidão e mais capacidades na próxima cúpula”, disse ele.
Paralelamente, Stoltenberg afirmou que a Otan não pode desviar o olhar da Rússia. Ele rejeitou a ideia de que as forças de Moscou tenham se mostrado enfraquecidas no motim e revelou que a aliança aumentou sua prontidão para um eventual conflito com os russos, de acordo com a agência Associated Press (AP).
“Portanto, sem mal-entendidos e sem espaço para mal-entendidos em Moscou ou Minsk sobre nossa capacidade de defender nossos aliados contra qualquer ameaça potencial”, afirmou o secretário-geral, acrescentando que as forças podem ser ampliadas novamente se assim for estabelecido na reunião de Vilnius.