Wagner Group volta a operar, mas perde canais online e tem futuro incerto na Rússia

Moscou chegou a iniciar campanha para banir a organização, mas desde segunda as atividades foram retomadas normalmente

Entre as muitas incertezas que se sucedem ao frustrado motim organizado pelo Wagner Group na Rússia, encerrado no último sábado (24), uma das principais diz respeito à própria organização paramilitar privada. Moscou ainda não se posicionou de forma clara e segura sobre o destino do grupo mercenário, que ao menos nos primeiros dias após se rebelar contra o governo voltou a operar normalmente.

“Apesar dos eventos ocorridos, o centro continua funcionando normalmente de acordo com a lei da  Federação Russa”, disse o escritório central do Wagner Group em São Petersburgo, segundo informou o jornal independente The Moscow Times.

Se as instalações físicas do grupo seguem abertas, o mesmo não vale para alguns de seus canais digitais. A reportagem de A Referência verificou que duas páginas do Wagner na rede social russa VK estão fora do ar desde o sábado, ambas bloqueadas pelo governo.

Porta da nova sede do Wagner Group tem a logomarca da organização (Foto: reprodução/VK)

Os dois canais exibem a mesma mensagem: “A comunidade foi bloqueada por pedido de Roscomnadzor por que a mesma está no Registo de recursos ilegais”, diz o texto, citando o órgão estatal que monitora a internet na Rússia. “Este material foi bloqueado a pedido de Roskomnadzor com base na decisão do Ministério Público da Federação Russa de 24 de junho de 2023 nº 27-31-2023″/Treb431-23”.

Nos primeiros momentos após o motim, o bloqueio não se restringia aos canais virtuais do Wagner. De acordo com o investidor russo Dmitri Alperovitch, que atualmente vive nos EUA e por lá gere um think tank focado em estudos de cibersegurança, Moscou chegou a colocar em ação uma campanha para banir totalmente a organização paramilitar.

“Por cerca de 24 horas, o Wagner se tornou uma organização proibida na Rússia. Sua presença online foi colocada na lista negra, escritórios invadidos, cartazes de recrutamento retirados, vendas de mercadorias online bloqueadas… E agora tudo parece perdoado, com muitas das proibições completamente revertidas”, disse ele no Twitter.

O ativista de direitos humanos Vladimir Osechkin, que administra o site Gulagu.net, diz que a situação só não foi revertida em benefício dos mercenários envolvidos no motim. Eles teriam seguido para Belarus junto com o chefe deles e líder do golpe frustrado, Evgeny Prigozhin.

Inclusive, o presidente belarusso Alexander Lukashenko, que intermediou o acordo de rendição com o Wagner, teria começado a prepara instalações para a organização paramilitar privada, embora não esteja claro se ou como ela funcionará a partir de Belarus.

Uma manifestação oficial sobre o futuro do Wagner Group partiu de Sergei Lavrov, porta-voz do Kremlin, e diz respeito a um tema do maior interesse de Moscou. segundo ele, o trabalho dos mercenários em países da África “continuará, é claro”. Ele se manifestou em entrevista ao canal estatal russo RT, cujo conteúdo foi reproduzido pelo site The Defense Post.

O grupo marca forte presença sobretudo na África, onde, mesmo acusado de abusos de direitos humanos, mantém parcerias com governos locais para na área de segurança e conduz campanhas de desinformação para fortalecer a imagem da Rússia e enfraquecer a das nações ocidentais.

Lavrov, inclusive, fortaleceu essa retórica, dizendo que os países europeus, em particular a França, “abandonaram” as nações africanas, que por sua vez teriam solicitado a Moscou e ao Wagner que fornecessem tropas para “garantir a segurança de seus líderes”.

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