Milos Zeman, presidente da República Tcheca, afirmou nesta semana que tanto ele quanto alguns de seus assessores próximos foram grampeados pelo serviço de contrainteligência do país. Os grampos teriam sido obra do BIS (Serviço de Informações de Segurança, da sigla em inglês), segundo o site bne IntelliNews.
“Vários anos atrás, um oficial sênior do BIS me informou que Koudelka ordenou a escuta telefônica de meus arredores, e, portanto, também de mim”, disse Zeman, referindo-se ao chefe do serviço, Michal Koudelka.
Agora, Zeman pressiona o primeiro-ministro Andrej Babis a demitir Koudelka. Se o pedido não for atendido, o presidente ameaça retirar seu apoio nas eleições gerais de outubro, cujas pesquisas indicam uma disputa apertada pelo poder no país.
“O chefe do serviço secreto não pode espionar praticamente qualquer cidadão que queira sem motivos ou provas. Esse é apenas um dos motivos pelos quais acredito que Koudelka não é o homem certo para o cargo”, disse Zeman.
O pedido é controverso porque o BIS foi fundamental para expor a participação da Rússia nas explosões em um depósito de armas na cidade tcheca de Vrbetice, em outubro de 2014. Zeman, por sua vez, é um notório apoiador de Moscou e tem se posicionado contra eventuais sanções impostas à Rússia.
Partidos de oposição e aliados ocidentais teriam pressionado o primeiro-ministro a ignorar os apelos e nomear Koudelka para um novo mandato. Babis, por sua vez, desmentiu Zeman e a firmou que não cabe a ele, como primeiro-ministro, tomar decisões sobre escutas telefônicas.
“Nem o governo nem o premiê têm competência para autorizar ou interromper as escuta telefônicas. E, é claro, não tenho informações sobre quem o BIS ou a polícia estão escutando. Pelo que eu sei, todas as escuta telefônicas são autorizadas pelos tribunais”, disse Babis. “Rejeito a ideia de que algum dia eu indagaria sobre quem nossos serviços estão espionando”.
Por que isso importa?
No incidente de 16 de outubro de 2014, cerca de 50 toneladas métricas de munição armazenadas no local explodiram. Dois meses depois, outra explosão destruiu 13 toneladas de munição no mesmo depósito.
Uma investigação concluída por Praga em abril deste ano apontou que as explosões foram causadas pelos mesmos agentes russos responsáveis pela tentativa de envenenamento do agente duplo Sergei Skripal, no Reino Unido, em 2018.
Os dois espiões, coronéis Alexander Mishkin e Anatoly Chepiga, teriam realizado ainda quatro ataques em fábricas de armamentos na Bulgária entre 2011 e 2020. Em Gorni Lom, na fronteira com a Sérvia, uma explosão que matou 15 pessoas em 2014 também é atribuída à dupla de agentes russos.