Postagem em rede social ajuda a expor espiões russos na República Tcheca

Um dos agentes criou um perfil no Facebook para conversar com uma ucraniana que havia conhecido em um bar

Não foi necessário um grande trabalho de contraespionagem para expor uma dupla de espiões russos responsáveis por ao menos três incidentes que ganharam repercussão internacional na última década. Erros primários ajudaram a desmascarar os agentes, conforme reportagem do Bellingcat, site britânico de jornalismo investigativo. 

Os coronéis Alexander Mishkin e Anatoly Chepiga são membros da Unidade 29155 do GRU (Departamento Central de Inteligência da Rússia). Sob o comando do general Andrey Averyanov, a dupla estaria envolvida em explosões e envenenamentos na República Tcheca, na Bulgária e na Inglaterra. 

A presença de Chepiga em Praga, em outubro de 2014, foi confirmada por uma foto postada no Facebook. O perfil estava em nome de Ruslan Boshirov, justamente o pseudônimo habitualmente usado pelo espião para ingressar nos países sede de suas missões. Chepiga, ou ‘Boshirov’, teria criado o perfil especialmente para conversar com uma ucraniana que ele teria conhecido dias antes, num bar da capital tcheca.

Já Averyanov teria viajado sob o pseudônimo Andrey Overyanov, com apenas uma vogal diferindo de seu nome real.

Série de 'erros' levou investigação até espiões russos na República Tcheca
Os espiões russos acusados de tentar assassinar o agente duplo Sergei Skripal são flagrados na cidade britânica de Salisbury, 2018 (Foto: Reprodução/Caption/Daily Mail)

Em 16 de outubro, cinco dias após a postagem de Chepiga, ocorreu a explosão de dois depósitos de armas no vilarejo checo de Vrbetice. Dois funcionários que trabalhavam no depósito morreram, e 58 toneladas de armamentos foram destruídas. Os dois russos são acusados também de coordenar uma série de explosões semelhantes na Bulgária, entre 2011 e 2020, bem como uma tentativa de envenenamento.

A explosão em Vrbetice gerou uma crise diplomática entre a República Tcheca, Bulgária e Rússia, que expulsaram vários diplomatas em sanções recíprocas.

Desaparecidos

A missão mais famosa de Mishkin e Chepiga, porém, foi o envenenamento do agente duplo Sergei Skripal e de sua filha, Yulia, em maio de 2018, em Salisbury, na Inglaterra. Na ocasião, Chepiga também havia ingressado no Reino Unido como Ruslan Boshirov.

Durante a passagem pela Inglaterra, eles concederam entrevista à emissora estatal russa RT como meros turistas em Salisbury e disseram ser vendedores de suplementos alimentares com “grande interesse” pela catedral local.

A entrevista ocorreu pouco depois da morte por envenenamento da britânica Dawn Sturgess, que teria se contaminado acidentalmente com novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela União Soviética nas décadas de 1970 e 1980. Foi o mesmo produto usado contra Skripal e sua filha.

Por terem suas identidades expostas, os agentes passaram a atuar como “representantes do Kremlin” em diferentes regiões da Rússia, registrou o tabloide britânico “Daily Mail”, no início deste mês.

Em 2014, o presidente Vladimir Putin condecorou os agentes com o prêmio “Heróis da Rússia” – o mais importante do país – pela atuação em uma operação secreta na República Tcheca. Em seguida, os espiões receberam apartamentos em áreas nobres de Moscou.

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