Primeiro-ministro da Eslováquia rompe o silêncio e culpa a oposição por atentado

Robert Fico, que continua em recuperação, alega ter sido vítima de uma 'tentativa de assassinato com motivação política'

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, fez sua primeira declaração pública desde que foi baleado há três semanas, acusando a oposição de estar por trás do que chamou de “tentativa de assassinato com motivação política”. Em um vídeo publicado na quarta-feira (5) em sua página no Facebook, o líder falou sobre sua recuperação e afirmou que seria “um pequeno milagre” se ele conseguisse voltar ao trabalho nas próximas semanas. As informações são do jornal The New York Times.

Fico foi baleado no dia 15 de maio na cidade de Handlova, cerca de 140 quilômetros a nordeste da capital Brastislava. Quatro tiros teriam sido disparados pelo agressor, sendo que o premiê foi atingido no estômago. Ele estava em frente à Casa de Cultura de Handlova para se reunir com apoiadores no momento do atentado.

Em seu discurso, Fico disse que o ataque o prejudicou seriamente e que está recebendo tratamento ambulatorial. Ele espera voltar ao trabalho aos poucos até o final de junho ou início de julho, “se tudo correr como planejado”, conforme tradução fornecida por ele e seu partido, Smer.

Robert Fico é declaradamente pró-Moscou (Foto: European Council/Flickr)

Fico afirmou que “um ativista da oposição eslovaca” tentou matá-lo por causa de suas opiniões políticas, chamando o atirador de “mensageiro do mal e do ódio político”. Os partidos da oposição negaram qualquer envolvimento no tiroteio. O suposto agressor foi apontado como Juraj Cintula, de 71 anos, residente na cidade de Levice. De acordo com fontes locais, Cintula é descrito como um “poeta ativo” em várias organizações políticas com diferentes ideologias.

Fico afirmou que não buscará ações legais contra o suspeito nem solicitará indenização. “É hora de dar o primeiro passo, e esse passo é o perdão”, disse Fico. “Não sinto ódio pelo desconhecido que atirou em mim”.

Fico, que se tornou primeiro-ministro em outubro após uma vitória suada, fez declarações antes da moratória sobre discursos e campanhas na Eslováquia, antes das eleições para o Parlamento Europeu. Ele sugeriu que suas opiniões políticas, como a oposição à ajuda militar à Ucrânia, o tornaram um alvo. Seus opositores acusaram seu governo de minar a democracia. O premiê afirmou que “o direito a uma opinião diferente deixou de existir na UE”.

Fico criticou seus oponentes políticos e revelou que estava preocupado há meses com a possibilidade de um atentado. “Eu deveria estar cheio de raiva, ódio e desejo de vingança”, afirmou. “A discordância com um político não se resolve com um tiro. Pelo contrário, quero acreditar que toda a dor que sofri e ainda estou sofrendo servirá para algo positivo”.

Michal Simecka, líder do partido de oposição Eslováquia Progressista, negou qualquer ligação com o agressor em uma declaração no Facebook, condenando a tentativa de assassinato e desejando rápida recuperação a Fico, embora tenha expressado desapontamento com o discurso do primeiro-ministro.

O partido de oposição Liberdade e Solidariedade rejeitou qualquer ligação com o tiroteio em um comunicado no Facebook, enfatizando sua oposição a associações entre o assassino e sua política baseada em críticas fundamentadas, e criticando Fico por ataques à oposição.

Parceiro do Kremlin

Aliado de Vladimir Putin e conhecido por suas posições contrárias à Ucrânia na guerra, Fico retornou ao cargo após as eleições parlamentares de outubro do ano passado. Ele e seu partido de centro-esquerda, o Smer, superaram Michal Simecka, da sigla liberal Eslováquia Progressista, que liderava as pesquisas de boca de urna.

A vitória de Fico levantou preocupações nos EUA e na União Europeia (UE) devido à postura anti-Kiev do premiê, semelhante à do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

Fico se opôs às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia e questionou o apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Ucrânia. Durante a campanha, pregou a suspensão do envio de armas ao país invadido e a atribuição de responsabilidade pela guerra também ao Ocidente e a Kiev, não somente a Moscou.

As políticas de Fico combinam elementos de conservadorismo social, nacionalismo, retórica anti-LGBT e promessas de benefícios sociais generosos, demonstrando uma agenda antiliberal eficaz, principalmente em pequenas cidades e áreas rurais. Ele já havia ocupado o cargo de primeiro-ministro, que deixou em 2018 devido a protestos após o assassinato de um jornalista que investigava a corrupção.

Tags: