Putin vê avanço lento como estratégia e não põe limite para conquistas territoriais, dizem analistas

Moscou aposta em uma guerra longa, que garanta um avanço gradual de sua tropas e leve futuramente à destruição do Estado ucraniano

“Devagar se vai ao longe.” O ditado popular parece definir a estratégia de Vladimir Putin na guerra da Ucrânia, conforme análise publicada no domingo (30) pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês). De acordo com a entidade, o presidente da Rússia passou a encarar o avanço lento de suas tropas no campo de batalhas como uma tática eficaz, não como um problema, e dentro desse cenário não existem limites para o ganho territorial de suas tropas.

“Putin articulou uma teoria de vitória que assume que as forças russas serão capazes de continuar avanços graduais e rastejantes indefinidamente, de impedir a Ucrânia de conduzir operações contraofensivas operacionalmente significativas e de vencer uma guerra de atrito contra as forças ucranianas”, dizem os analistas do ISW.

Na atual ofensiva russa, as operações em larga escala que visavam ganhos significativos com manobras rápidas foram deixadas de lado. A prioridade agora são operações consistentes e com ganhos táticos graduais, o que gera a expectativa de uma guerra mais longa que talvez não seja suportada por Kiev com a mesma capacidade que o faz Moscou.

Putin: vitória a longo prazo (Foto: The Presidential Press and Information Office/WikiCommons)

“Uma guerra prolongada favorece o cálculo de Putin, uma vez que ele provavelmente avalia que a Rússia será capaz de manter qualquer terreno que tomar e que as forças russas terão mais probabilidade de atingir seus atuais objetivos territoriais declarados quanto mais a guerra progredir”, diz o ISW. “Putin e o Kremlin intencionalmente não estabeleceram limites para seus objetivos de conquista na Ucrânia.”

O ISW avalia ainda que o ganho territorial faz parte do plano amplo de destruir completamente o Estado e a identidade da Ucrânia, mas podem servir também a um propósito bem menos ambicioso: convencer o Ocidente de que aceitar a perda territorial por parte de Kiev é mais vantajoso que aceitar uma derrota total. Nesse cenário, o apoio à Ucrânia se reduziria gradualmente até que um acordo de paz concedesse a Moscou as áreas conquistadas militarmente.

Em maio, a agência Reuters ouviu fontes dentro do governo russo segundo as quais é justamente essa a ideia de Putin atualmente. Ele se vê pronto para seguir lutando, mas aceitaria um acordo de paz desde que tivesse o direito de sustentar os territórios que hoje estão sob controle russo.

A afirmação das fontes, todas próximas a Putin, foi parcialmente endossada pelo porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov, segundo quem a Rússia não quer uma guerra “eterna” e está aberta ao diálogo. O próprio Putin se manifestou neste sentido durante a recente viagem à China, afirmando que “nunca recusou” a negociação.

Entretanto, a ideia de uma guerra longa recebe aceitação equivalente em Moscou. “Putin pode lutar o tempo que for necessário, mas Putin também está pronto para um cessar-fogo para congelar a guerra”, disse uma das fontes, que pediu para ter a identidade preservada devido à delicadeza da questão.

De acordo com os analistas do ISW, ao “congelar a guerra” sustentado os atuais ganhos, Putin não atingir a meta de erradicação da Ucrânia, mas enfraqueceria terrivelmente seu inimigo e ganharia fôlego para voltar à carga posteriormente, em um conflito futuro decisivo.

“Putin e o comando militar russo provavelmente esperam que um cessar-fogo permita à Rússia lançar um futuro estágio da guerra com um exército mais capaz de buscar avanços operacionalmente significativos”, dizem os analistas.

Para Kiev, a única alternativa, seja qual for o cenário, reside na manutenção do apoio ocidental. A análise dos especialistas é a de que ” assistência de segurança ocidental que fornece às forças ucranianas o equipamento e as armas necessárias na escala” é atualmente “o único caminho provável para reduzir o atual compromisso de Putin em destruir o Estado e a identidade ucranianos, independentemente do tempo ou custo.”

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