Resultados das eleições europeias revelam ascensão da extrema direita

O fortalecimento das ideologias radicais e da direita populista reverberou por toda a Europa, causando um 'terremoto político'

Os resultados das eleições parlamentares europeias, um dos maiores eventos democráticos do mundo, estão sendo divulgados após vários dias de votação. O pleito sinalizou um aumento da influência da direita em várias partes da União Europeia (UE), incluindo alas radicais e nacionalistas. As informações são da rede CNN.

Na França, o Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, fez história, conquistando o primeiro lugar. Na Itália, o partido pós-fascista Irmãos da Itália, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, também ficou em primeiro. Na Alemanha, o Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar, ultrapassando os sociais-democratas liderados pelo premiê Olaf Scholz.

Embora os partidos de extrema direita tenham obtido bons resultados em todo o continente, isso não causou um deslocamento do centro político europeu, como muitos previam. Em vez disso, os grupos liberais e verdes perderam assentos e influência no Parlamento Europeu. Além disso, houve agitação na política interna de alguns países, incluindo a França, onde novas eleições foram anunciadas.

A política de extrema direita da França, Marine Le Pen (Foto: WkiCommons)

Antes da votação, havia grande expectativa em relação à ala radical de direita na Europa. Esperava-se que esses grupos conquistassem um número recorde de assentos no Parlamento Europeu, desafiando os líderes tradicionais do continente.

Uma pesquisa de boca de urna sugeriu que os partidos de extrema direita poderiam conquistar cerca de 150 dos 720 assentos do parlamento, dificultando a formação de maiorias para aprovar leis pelos principais partidos. No entanto, para aumentar sua influência política, esses partidos precisam buscar consenso entre si.

Em geral, não ocorreu uma alteração significativa no Parlamento Europeu, onde as eleições ocorrem a cada 5 anos. A centro-direita tem sido o maior grupo desde 1999, seguida pela centro-esquerda. Entretanto, na Alemanha e na França, em particular, é que observou-se uma situação diferente, com partidos de direita populista e extrema-direita ganhando considerável apoio nessas eleições.

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está politicamente isolado: foi expulso do grupo Identidade e Democracia (ID), uma coalizão de extrema direita no Parlamento Europeu após declarações controversas de seu principal candidato europeu, Maximilian Krah, sobre os membros da membros da SS nazista, que desempenhou um papel importante no Holocausto, os quais disse que “não eram todos criminosos”. Além disso, diversos outros partidos de extrema direita estão classificados como não alinhados (NI), e devem garantir 45 assentos.

Apesar do aumento da extrema direita, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro, foi o maior vencedor individual no domingo (9). Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, declarou que o PPE, esperado para ter mais assentos, pode proporcionar estabilidade. No entanto, ela pediu aos aliados políticos que ajudem a proteger contra extremistas. “O centro está se mantendo. Mas é verdade que os extremos de esquerda e direita ganharam apoio, o que traz grande responsabilidade para os partidos centristas”, disse ela em Bruxelas.

A ultradireita também obteve resultados favoráveis em países como Áustria, Polônia e Holanda.

Parlamento dissolvido na França e renúncia na Bélgica

Os resultados das eleições provocaram grandes turbulências políticas em vários países europeus, já que os ganhos de grupos anteriormente periféricos se tornaram impossíveis de serem ignorados por alguns líderes.

O presidente francês, Emmanuel Macron, surpreendeu ao anunciar eleições antecipadas no domingo, logo após seu partido ser derrotado pelo Rally Nacional (RN), de extrema direita, liderado por Marine Le Pen.

“Decidi devolver a escolha do seu futuro parlamentar através do voto. Portanto, estou dissolvendo a Assembleia Nacional esta noite”, afirmou Macron. As novas eleições parlamentares estão marcadas para os dias 30 de junho e 7 de julho.

Num evento de comemoração na sede do RN antes do anúncio do presidente francês, o líder do partido, Jordan Bardella, disse que a derrota do governo atual é sem precedentes e marca o fim de uma era, dando início a uma nova era pós-Macron.

Por outro lado, o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, renunciou após seu partido sofrer uma derrota avassaladora nas eleições parlamentares nacionais e europeias.

De Croo, de 48 anos, se esforçou para conter as lágrimas ao anunciar sua decisão em Bruxelas no domingo à noite. “Eu fui o rosto desta campanha. Este não é o resultado que eu esperava e, portanto, assumo a responsabilidade por ele. Não era o que eu previa”, disse ele aos jornalistas.

Meloni fortalecida na Itália

Enquanto muitos líderes da União Europeia não tiveram resultados positivos, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, viu seu partido, Irmãos de Itália, ganhar destaque, ganhando moral como figura importante na política europeia. Seu partido é o mais à direita a chegar ao governo italiano desde a era de Benito Mussolini, o líder fascista da Segunda Guerra Mundial.

Meloni emergiu como uma figura pragmática na Europa, aliando-se a von der Leyen e apoiando firmemente a Ucrânia, enquanto pressiona a União Europeia por políticas migratórias mais assertivas. Após a vitória dos Irmãos de Itália nas eleições, esses esforços podem ganhar mais força.

Esquerda em baixa

Com o crescimento dos partidos de direita, os grupos de esquerda, especialmente os Verdes, enfrentaram desafios em toda a Europa, registrando uma queda significativa de apoio na França e na Alemanha, como indicaram os resultados iniciais.

Bas Eickhout, vice-presidente dos Verdes/EFA e principal candidato do Partido Verde Europeu, admitiu que as perdas na Alemanha e na França foram um golpe significativo, conforme declarado em seu comunicado sobre os resultados. Apesar de prometerem continuar pressionando o novo parlamento em questões climáticas, a influência dos Verdes foi notavelmente reduzida. Agora, resta aguardar o quanto os líderes europeus dependerão de seu apoio.

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