Rússia ameaça até familiares de migrantes que se recusam a ir à guerra na Ucrânia

Nova lei pretende tirar a cidadania de parentes dos indivíduos que se recusem a assinar contrato com o Ministério da Defesa

Conforme a guerra da Ucrânia avança mais do que a Rússia jamais imaginou, com baixas que igualmente não estavam nos planos, recrutar novos combatentes é prioridade para Moscou. Nesse cenário, migrantes que já têm ou buscam a cidadania russa tornaram-se alvo preferencial. Eles dizem que têm sido forçados a assinar contrato com o Ministério da Defesa, segundo relataram ativistas pelo Telegram. Nem mesmo parentes são poupados pelas autoridades.

A campanha das forças armadas visa sobretudo cidadãos de países da Ásia Central. Caso queiram manter ou obter a cidadania, homens nascidos em países como Cazaquistão e Tadjiquistão precisam assinar contrato com o governo, tornando-se assim candidatos preferenciais para lutar na Ucrânia.

Cidadãos russos também são perseguidos por autoridades estatais, que fecharam o cerco contra quem tenta evitar o recrutamento. Isso se mantém mesmo após o governo anunciar que oficialmente encerrou a mobilização parcial iniciada em setembro do ano passado. Com os migrantes, entretanto, a abordagem é implacável e abusiva, ignorando inclusive barreiras legais que não os obrigam a lutar.

Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)

Uma nova medida planejada pelo governo visa a punir inclusive familiares dos estrangeiros que não querem se juntar às forças armadas, com uma lei sendo debatida para que eles percam os direitos caso algum parente se recuse a assinar contrato com o Ministério da Defesa.

“Acredito também que, neste caso, onde a cidadania foi adquirida por um migrante que evitou o serviço militar, os membros da família do migrante também deveriam ser privados da sua cidadania”, disse Mikhail Matveev, um parlamentar atuante no caso.

A perseguição das autoridades coloca os migrantes contra a parede. Os que não cedem à pressão, são perseguidos na Rússia e podem acabar expulsos, sendo que muitos vivem no país há anos. Caso aceitem colocar a própria vida em risco no campo de batalhas, podem ser punidos em seus países de origem, onde há leis que os proíbem de participar de atividades militares no exterior.

A ativista Tatyana Kotlyar diz ter ouvido os relatos de cinco migrantes nessa situação. Um deles já vivia na Rússia e optou por ir embora, Alegando ter sido ameaçado pelos recrutadores de que enfrentaria problemas legais caso não assinasse o contrato com o Ministério da Defesa.

“Não somos considerados pessoas aqui, somos tratados como gado. Não quero ser cidadão deste país. Peguei uma passagem e estou saindo de casa”, teria dito o homem, de acordo com relato da ativista.

Um cidadãos tadjique disse que o recrutamento obrigatório tornou-se padrão na região de Kaluga, 150 quilômetros a sudoeste de Moscou. “Há muitas pessoas que solicitam a cidadania no departamento de migração, especialmente cidadãos do Tadjiquistão. Todos os homens são encaminhados para o cartório de alistamento militar, enquanto as mulheres recebem seus documentos com tranquilidade.”

De acordo com Valentina Chupik também ativista de direitos humanos, neste mês vem sendo realizada uma grande operação para procurar homens que tenham recebido recentemente a cidadania russa e não tenham se registado no serviço militar. Quando detidos, eles recebem intimações para se apresentarem imediatamente nos centros de alistamento militar.

Na tentativa de solucionar a questão de maneira rápida, as autoridades oferecem o passaporte russo aos migrantes, mesmo àqueles que em teoria não teriam direito ao documento. Para obtê-lo, basta que se alistem e cumpram seu tempo de serviço militar.

Segundo os dados mais recentes do Ministério do Interior da Rússia, há atualmente no país cerca de 10,5 milhões de migrantes provenientes de países como Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão. Muitos deles foram alvo da mobilização de Putin que adicionou cerca de 300 mil novos combatentes às fileiras do exército na Ucrânia em setembro. Os que conseguiram escapar estão sendo perseguidos agora.

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